NINGUÉM
O despertador tenta acordar. Mexe essas pernas! Mexe
tu que as tens! Vai tu que eu faço de galo.
País Butão, poderia viver lá com nada em casa da
camisa.
Tudo se sabe, nada se encontra.
A primeira palavra ouvida na sala após todo um
mecânico despertar: “Vá.” Dirigindo-se à última gota que
não queria ser sacrificada no topo da garrafa de cristal.
Olhei para o copo, picado, vi meu reflexo, sentado. Serei
eu bebível, intragável? Mexi-me um pouco, remexi minhas
ondas. Estagnei. Provei-me. Um rio escoa inalado. Estou eu e
eu em diferentes estados. Líquido, Alabama, Alcoolizado.
Hoje acordei como todos acordam, abrindo os olhos e,
como poucos, sorrindo. Pensei num mundo cheio, mundo
flácido, gordo. Leite pastoso, fora de validade. Um mundo
ressacado de uma ébria, pálida noite. Toquei no quadrado de
sol e passeando na floresta de alcatifa encontrei miolos que
não me levavam a sítio algum. Apenas a uma ideia de vazio.
Decidi eliminá-los, assoprá-los, aspirá-los. Não o fiz.
Despejei-me a mim. Mijei, caguei, num ápice me masturbei.
Lavei-me, esfreguei-me, limpei-me. Todo nu desatei o atado
escrever. Quis esvaziar tudo em mim, todas as palavras que
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