Desfazer as confusões pd52 | Page 79

Junta-se a esse cenário o fato de o país ter atualmente cerca de 4,8 milhões de pessoas na condição de desalentados (pessoas que desistem de procurar trabalho após ficarem muito tempo desempregadas) e de que falta trabalho para 27,6 milhões de brasileiros, como mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de subutilização da força de trabalho ficou em 24,6%, no segundo trimestre de 2018. O resultado de tudo isso tem sido, entre outras coisas, a explo- são da violência em todo o país. Os homicídios, segundo o Insti- tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), equivalem à queda de um Boieng 737, lotado diariamente. Representam quase 10% do total das mortes no Brasil e atingem principalmente os homens jovens: 56,5% de óbitos dos brasileiros entre 15 e 19 anos foram por morte violenta. Reverter este quadro passa necessariamente pela educação – não só por ela, mas sem ela não chegaremos lá –, na perspectiva de um alinhamento entre crescimento econômico e social. Infeliz- mente, o Brasil oferece uma educação de baixíssima qualidade, a começar pela alfabetização de nossas crianças: 55% delas não sabem ler, escrever e contar adequadamente ao fim do terceiro ano do ensino fundamental, quando a maioria está com nove anos. Não se pode deixar de reconhecer que o Brasil melhorou quanto ao acesso à escola – mas sem qualidade. É preciso colocar na mesma equação da educação quantidade e qualidade. Como se diz popularmente, vamos precisar mudar o pneu com o carro em movimento. Isso porque a larga maioria dos países está se prepa- rando para enfrentar a revolução industrial 4.0, e nós ainda esta- mos patinando com o analfabetismo de nossas crianças. O Brasil precisará fazer um esforço hercúleo nos próximos anos no campo da educação, mas não há outro caminho. Há 50 anos, o Papa Paulo VI, em uma das encíclicas mais importantes da doutrina social da Igreja Católica, a Populorum Progressio (O Desenvolvimento dos Povos), afirmou: "A paz é o novo nome do desenvolvimento". Este desenvolvimento passa tanto por uma educação formal de qualidade – para os que estão na escola – como pela oferta de uma educação não formal para os que deixa- ram de sonhar com uma vida próspera. A formal é estruturante para o país a médio e longo prazo, mas a não formal é urgente para ampliar as chances de empregabilidade e renda. Empregos passam pela educação 77