Particularmente dois capítulos me encantaram: “Gonçalves
Dias: poesia e etnia” e “Presença do Parnaso”. Gonçalves Dias e
Bilac são poetas do meu coração. Talvez meus poetas preferidos...
Faz tempo que o autor da Canção do exílio me acompanha.
Muito tempo. Eu e meus irmãos ainda sabemos de cor I-Juca
Pirama que nosso pai declamava. Já no título do capítulo, Secchin
informa o Gonçalves Dias de que se vai ocupar: o poeta dos índios,
com breve menção ao poema da escrava negra. Sem deixar de
comentar a atualíssima consciência política que o velho Piaga
manifesta, Secchin detém-se no belo "Leito de folhas verdes",
apontando a íntima relação que o poema tece entre a natureza e
a voz lírica feminina que registra e lamenta a ausência do amado.
Aponta ainda o entrelaçamento de desencontros amorosos prota-
gonizados por personagens indígenas: a dor da índia que em vão
espera por Jatir é antecipada pela dor da índia loira cuja mestiça-
gem não lhe permite esperar ninguém: é o lamento de “Marabá”.
Unificando a presença de etnias representadas muitas vezes por
mulheres, Secchin identifica, nesta vertente da poesia gonçalvina,
o que vai constituir uma plurialteridade crítica, absolutamente
original ao tempo em que o poeta do exílio publicava seus "Primei-
ros, segundos e últimos cantos".
Mais adiante, gostei particularmente do "resgate" (eu ia dizendo
"perdão póstumo”) do Parnasianismo e do leve puxão de orelha nos
modernistas: Secchin nos lembra que a liberação geral do verso
livre gerou tanta bobagem quanto a busca de palavras raras.
São muito sugestivas as considerações sobre a forma “soneto”,
que puxam para a “estrutura” (eu ia dizendo ossatura...) dos 14
versos do poema a ideia de rigor/ distanciamento/formalismo
que, muitas vezes, é reduzida a palavra raras, rimas ricas, sintaxe
arrevesada. (Em tempo: estas considerações de Secchin não são
nenhuma surpresa: afinal, ele é um exímio sonetista!).
No seu todo, o capítulo propõe uma profunda "revisão' do
Parnasianismo, que se encerra pelos comentários ao soneto bila-
quiano “A um poeta”. A ênfase com que Secchin comenta, a propó-
sito da metalinguagem tão visível no poema, a valorização do
trabalho (artesanato?) que o poema opera, articula-se muito bem
a outros perfis de Bilac que Secchin registra: o Bilac jornalista e
o militante pela profissionalização do escritor.
Ou seja, surge aí um Bilac bem próximo do nada “estéril turbi-
lhão da rua”...
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Marisa Lajolo