Já dizia minha avó: o
importante é ter saúde
Giovanna Rosti Vicentine
Após o ingresso na faculdade e passar quatro meses sem ver a
família, durante as férias fui à casa de meus avós e ainda lembro
a frase que meu avô proferiu logo quando atravessei a porta:
- Nossa, você está viçosa, bonita, está gorda!
Aquilo desceu entalado aos meus ouvidos, tudo o que eu menos
queria ouvir naquele momento era que estava gorda. Meus senti-
dos, obviamente, como o de qualquer outra mulher que é insatisfeita
com aqueles quilinhos a mais (a maioria), não ouviu a parte da
bonita ou viçosa.
Era bem mais alto e estridente o “você está gorda”. Perdeu a
graça a visita. O pão caseiro que sempre me enchia a boca de
saliva, eu recusei.
Passados vários dias, me indaguei, porque meu avô de uma ge-
ração diferente a minha acha que uma mulher por estar gorda
está também bonita? Por que não nasci naquela época? Por que fui
nascer gordinha na época de padrões tão inalcançáveis?
E é aí que a gente cai na real. Os padrões são feitos para se-
rem inatingíveis mesmo. Que na época do meu avô, as mulheres
tinham que cuidar de famílias com vários filhos, trabalhavam
em lavouras de café, tinham uma alimentação sem fast foods e
quando engordavam era sinal de saúde, por estarem menos so-
brecarregadas. Estar com uns quilos há mais era estar dentro dos
padrões de beleza, ter um corpo preparado para procriação.
Durante o passar dos anos a gente percebe que comer aquele doce
maravilhoso é melhor do que ter um número a menos na etique-
ta da calça. Aonde está escrito que ser gorda é sinal de falta de
beleza? Deixem as gordas em paz. Deixem as gordinhas usarem
as roupas que se sentirem à vontade. Que saúde e felicidade vêm
sempre em primeiro lugar e é isso o que importa. Não adianta ser
magérrima e não ter saúde e o contrário também. E os padrões?
Ah os padrões serão sempre inatingíveis.
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