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Nayara Campos
A terceira edição do evento Garotas Uivantes foi mais um ato de resistência,
empoderamento e visibilidade para as mulheres artistas em Bauru
Sisie Soares, vocalista da banda Life, abriu a noite de apresentações no Garotas Uivantes
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m tempos em que o femi-
nismo ganha cada vez mais
força, o Brasil de Chiqui-
nha Gonzaga, Elis Regina, Gal Costa,
Cassia Eller e tantos outros talentos
femininos, segue na guinada de em-
poderamento e conquista de uma po-
sição de igualdade para as mulheres.
Em Bauru, nomes como Luciana Pires
e Bia Lopes aparecem na música e de-
senham um cenário de possibilidades,
resistência e aquisição de espaço.
O Grammy Awards de 2018, im-
portante premiação no mundo da músi-
ca, em sua 60ª edição, refletiu o sexis-
mo que se mantém no cenário musical.
Na noite de 28 de janeiro, apenas uma
mulher levantou o troféu no evento. A
cantora Alessia Cara foi vencedora na
categoria artista revelação.
Apesar da pouca, ou nenhuma,
representatividade, o prêmio foi palco
para denúncias contra a violência e o
abuso de mulheres. A cantora Kesha
apresentou, junto de outras artistas, a
música Praying. A apresentação foi a
volta de Kesha depois de, em 2014,
denunciar seu produtor, Dr. Luke,
acusado de abusar sexualmente da
cantora por anos. A canção trata da
violência sofrida por Kesha e anuncia
seu novo começo como uma mulher
que agora, livre do opressor, pode
viver sua liberdade.
Em Bauru, Luciana Pires afirma que
“o machismo existe, sim. O mundo da
música é machista por predominância
masculina. Principalmente quando se
fala em produção musical”. De acordo
com relatório divulgado pela União
Brasileira de Compositores (UBC),
em relação à arrecadação de direitos
autorais por reprodução pública de
músicas, as mulheres lucraram 28%
a menos do que os homens em 2017.
O levantamento ainda aponta que
entre os cem maiores arrecadadores
brasileiros, apenas dez são do sexo
feminino.
“Eu falo de força, eu
falo de coragem, vontade
de lutar e ver a mulher na
sua posição. O mundo sem
mulher não existe.”
O estudo “Inclusão no estúdio de
gravação”, publicado em 2018 nos Es-
tados Unidos, analisou 600 músicas
que fizeram parte da Billboard – tabe-
la musical norte-americana que avalia
as cem músicas mais vendidas no de-
correr de uma semana -, e o resultado
encontrado representa os números da
exclusão. A porcentagem que repre-
senta as mulheres creditadas como
compositoras ficou na casa dos 12,3%,
o que significa que os homens levaram
crédito em quase 90% das produções.
Quando o assunto é produção musical,
o sexo masculino assume 98% dos
créditos.
A cantora Bia Lopes, bauruense,
valoriza o trabalho e a luta de mulhe-
res de gerações passadas. Bia diz acre-
ditar que “todo trabalho que as artistas
do passado tiveram e as atuais têm tido
são para democratizar a música”. Tra-
zer para a música temas como feminis-
mo e denúncia de violência e abusos
contra mulheres ajuda na construção
de um cenário de representatividade.
A cantora afirma que a identificação
“com a história representada na músi-
ca, [faz com que pensemos] em algo
que vivemos e reflitamos acerca de al-
gum assunto”.
Em 16 de outubro, o serviço de
streaming de música, podcast e vídeo,
Spotify, lançou a campanha “Escuta
as Minas”. A ação traz nomes como
Elza Soares, Karol Conká, Mulam-
ba e Tiê, para cantar seus sucessos e
reviver os trabalhos de Cassia Eller,
Maysa e Chiquinha Gonzaga. A cam-
panha tem como objetivo promover
a representatividade das mulheres na
música. A Spotify realizou ainda uma
pesquisa sobre o cenário musical que
revelou que, em 2017, de 651 produ-
tores analisados no estudo apenas 2%
era mulher e somente 16,8% dos artis-
Crédito: Nayara Campos
tas do mercado da música é do sexo
feminino.
No documentário, “Escuta as Mi-
nas”, criado para a campanha, a canto-
ra Elza Soares diz que o que ela mais
busca “é a força das mulheres. Preci-
samos que esse Brasil acorde pra que
dê esse espaço pra todo mundo, essas
mulheres cantando, libertando. Está
faltando espaço. [...] Eu falo de força,
eu falo de coragem, vontade de lutar e
ver a mulher na sua posição. O mundo
sem mulher não existe.”
Os números reafirmam a neces-
sidade da luta feminista. Apesar das
barreiras impostas às mulheres no
mercado de trabalho e na vida social,
o feminismo é a corrente que abre es-
paço para que a mulher possa mostrar
seu potencial e conquistar seu lugar.
Na música, Luciana Pires e Bia Lopes
se juntam a Karol Conká, Mulamba,
Elza Soares, Tiê, e tantos outros talen-
tos brasileiros, para fazer valer o tra-
balho das pioneiras, Chiquinha Gon-
zaga, Elis Regina, Maysa, Cassia Eller
e Clara Nunes.
A revolução das mulheres vem
sendo construída há anos. Na música,
a voz delas, em coro, canta: “Ô abre
alas que eu quero passar”.
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