CULT 167 CULT 167 - ABR 2012 | Page 11

de pesquisa, sob a responsabilidade dos professores universitários. Em 1970, a Unesco e a Sociedade Internacional de Parapsicologia a reconheceram como a ciência mais humana dentre as outras.

[...]

-- Como teriam sido encarados os parapsicólogos há cem anos?

-- Há cem anos, as interpretações científicas de hoje teriam causado es-cândalos e, quanto aos parapsicologis-tas, teriam terminado na fogueira.

[...]

-- Agora vou lhe fazer uma pergunta delicada (ou atrevida): alguns fenôme-nos ocorridos entre os santos da Igreja Católica podem ser pura parapsicologia?

-- Claro. Por exemplo, as vozes que Joana D'Arc ouvia. Mas uma coisa é, por exemplo, a cura de uma paralisia funcional e a ressurreição de um mor-to. É natural a levitação a dois ou cinco metros, mas seria um milagre uma as-censão por cima das nuvens, etc.

Interrompo por um instante a en-trevista para dizer que, do interior do branco e vasto edifício do Retiro dos Padres, ouvi de repente belíssimas vozes humanas em canto gregoriano. Arrepiei-me toda, não sou católica, sou apenas sensível.

[...1

-- Eu, uma simples mulher, poderia provocar estados parapsicológicos?

-- Como qualquer pessoa, eventual-mente."

O mundo submerso

Na última entrevista, realizada para a revista Manchete do dia 25 de outubro de 1969, com o campeão de caça subma-rina Bruno Hermany, há um dado no mínimo curioso: na fotografia, é bem provável que a estante de livros frente a qual o entrevistado posa para a câmera seja de Clarice Lispector.

"Pelo menos no campo dos espor-tes não 'é preciso apresentar Bruno Hermany, campeão mundial de caça submarina. Ele é admirado por todos, mesmo pelos leigos, e estimula os afi-cionados. O fato de que mantém sempre um padrão ao mergulhar, em quaisquer mares, também é um dos fatores que o levaram ao estrelato internacional.

desde garoto morei no Rio. Tenho trin-ta e seis anos de idade. Escute, eu tinha vontade de lhe fazer uma pergunta: sen-do você de um campo claramente inte-lectual, como se lembrou de entrevistar um homem do esporte?

-- Todas as pessoas são interessan-tes, em maior ou menor grau. Mas

Bruno Hermany é um mestre no mun-do submerso, desde o mergulho até o tiro e, antes deste, na procura do peixe, no cálculo de seu tamanho e peso, no estudo de suas reações.

Antes de ser caçador de mergulho, foi campeão de natação com grande facilidade. [...] Também passou pela esgrima, tiro e corrida. [...] No entanto, tudo isso era apenas um preâmbulo para a sua grande paixão: o silêncio do mundo submerso (que, como se verá, não é silen-cioso). É um esporte, como escreveu uma vez Yllen Kerr, sem arquibancada, sem o estímulo de aplausos. Das águas do mar, Bruno reina em atividade silenciosa.

-- Como é que nasceu em você a es-colha pela caça submarina?

-- Por acaso, ou talvez pelo fato de vi-ver perto do mar. Morava em Ipanema, perto do Arpoador. E a curiosidade vai puxando a gente para o fundo. Daí a mer-gulhar e a caçar, é uma pequena distância.

[...]

-- Você é carioca?

-- Sou paulista de nascimento, mas

uma personalidade de atleta grego é um achado. Além do mais, embora em campos diferentes, ambos somos mergulhadores. Conte-me sobre o seu estado de espírito na hora que precede o mergulho.

- O mergulho é paz para mim, é tranquilidade, talvez fuga. Acredito até que um determinado estado de espírito inexista nesse momento. E talvez seja este, no meu caso, o segredo e o encanto da caça submarina.

[...1

Fizemos urna pausa enquanto mi-nha empregada trazia o café.

-- Agora uma pergunta - disse Bruno. - Seu nome é, assim, o máximo para o seu temperamento artístico, é um nome que atrai, é um suspense. De onde surgiu esse nome? Há muito tempo eu queria saber disso.

Respondi:

-- Meus pais eram russos, da Ucrânia, e, segundo meu pai, todas as gerações anteriores à dele tinham nas-cido na Ucrânia. Esse nome, com ar la-

"Meu nome, com ar de inventado, deve ter sido como seixo rolado: através dos séculos foi se formando e deformando"

tino, com ar de inventado, deve ter sido como seixo rolado: através dos séculos foi se formando e deformando."

Vera Helena Saad Rossi

é escritora e pesquisadora. Este artigo foi escrito a partir de doutorado apresentado à Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).