Selvino Assmann: filósofo e educador
Vinicius B. Vicenzi
“Viva!” Todos aqueles que conviveram com o professor Selvino Assmann reconhecerão nessa pequena palavra a sua voz. E aqui não se trata de mero recurso retórico para iniciar um texto. Para alguém que em muitos momentos nos ensinara que a Filosofia deveria buscar pelos primeiros princípios e para quem, em sua trajetória cristã, também vivera com a sentença de que no princípio havia o Verbo, nada mais justo do que posicionar o viver, a vida, no início de cada encontro, na sua saudação incomum. “Viva!” não era só um brinde alegre à vida, a cada notícia nova que recebia de nós, seus interlocutores. “Viva!” era um convite a estar junto, a celebrar novas descobertas, outras possibilidades. Era realmente uma espécie de primeiro princípio, sem o qual nossas existências perderiam o sentido.
Tudo isso pode parecer muito antigo, muito grego, mas Selvino sempre me pareceu um “professor das antigas”. Não que sua constante curiosidade não o levasse a discussões e autores cada vez mais contemporâneos. Muito pelo contrário, Selvino era extremamente atual. A cada encontro, um novo autor, novas possibilidades de leituras. Conheci Foucault por suas mãos, ou melhor, por sua boca. Esposito, esse desconhecido. Quantos não se lembrarão, também, das traduções de Agamben, por meio das quais deixou ao Brasil um legado importante de sua obra? Selvino era um “professor das antigas” porque os tempos atuais, como ele os elaborou, nunca foram acolhidos pelos modismos, sempre passageiros, mas pelas reais discussões que sempre se ligavam e se ligam
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à tradição, à história, à sua história. Seu pensamento estava imbricado, em carne e osso, com o que escrevia, com o que lia. A melhor definição que tenho é a de mestre, daquele cujo pensamento nos encantava ficar junto, para sermos, então, de alguma forma, discípulos. Autônomos, evidentemente. Mas como ele mesmo ensinava, não há autonomia sem a experiência prévia da heteronomia. Educação e filosofia caminhavam lado a lado nele. Por isso, ainda que nunca lhe tenha perguntado se gostaria de assim ser chamado, permito-me chama-lo ou tê-lo como “mestre”. Talvez um grande “mestre ignorante”, como o saudei no último momento em que tivemos juntos, na co-orientação de minha tese sobre Jacques Rancière. Pode parecer irônico, para alguém que sabia tanto, como Selvino, tê-lo como um “mestre ignorante”, mas talvez sua maior maestria estivesse na sua generosidade diante do pouco conhecido, do ignorado. Selvino transitava por diferentes filósofos e se dispunha a ler conosco autores e textos novos, para ele também. Uma humildade rara a um senhor de longos caminhos. Ainda tenho
“Viva!” não era só um brinde alegre à vida, a cada notícia nova que recebia de nós, seus interlocutores.