Contemporânea Contemporânea #12 | Page 5

EDITORIAL

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Maior espetáculo da terra? Talvez. O que não é pouco na sociedade em que o espetacular é tudo e mais um tanto do que importa. São os Jogos Olímpicos, realizados a cada quatro anos e cuja última edição acaba de encerrar-se em Paris. Desde a abertura, pela primeira vez realizada fora do estádio e ocupando as ruas e luzes da cidade, tudo parece superlativo quando o assunto é a reunião de milhares de atletas. Como convém aos tempos atuais, a festa que inaugurou o evento foi feita para ser vista pela televisão – ou melhor, pelo celular e por todas as modalidades de tela que se alastram como vírus nas mãos e frente aos olhos de todos e de cada um.

Já nos anos trinta do século passado, Walter Benjamin comparava a Exposição Universal, também realizada em Paris, em 1937, às Olimpíadas, tendo em mente a versão de 1936, celebrada em sua cidade natal, Berlim, sob domínio do nacional-socialismo. O grande filósofo e crítico literário, que menciona Paavo Nurmi, o supercampeão finlandês das corridas de fundo como exemplo de quem enfrentava a máquina – o relógio –, viu uma afinidade entre os impressionantes avanços tecnológicos expostos como espetáculo e contendas esportivas, a festividade expositiva dos corpos, quem sabe, eles mesmo tornados máquinas de competir.

É sobre esse movimento que tratam os textos deste número da Contemporânea: uma quase revista. As breves e contundentes contribuições vêm de autoras e autores que, em diferentes quadrantes analisam e comentam aspectos das Olimpíadas da era moderna. São ideias lançadas para o debate que, como gostamos de dizer, deve ser tão radical quanto for possível.

Não pode ser menos que isso quando o assunto é o esporte, que tanto diz sobre nós e nossaexperiência histórica.

As diferentes perspectivas se debruçam sobre questões importantes a respeito do fenômeno sportivo, que se torna cada vez mais modelar para a sociedade, demarcando simbolicamentes demandas por rendimento, beleza e progresso. Nesse contexto está igualmente outro tipo de competidor, de maneira que se aborda também as Paralimpíadas, que despontam agora na esteira das Olimpíadas. Elas talvez não sejam tão espetaculares quanto sua congênere, mas apresentam aspectos fundamentais e peculiares do esporte, universo cuja força é tão grande que já não existe nada, tampouco ninguém, que potencialmente escape de sua força e abrangência.

Enfim, boa leitura, e sintam-se convidadas e convidados a pensar, criticar, escrever!

Alexandre Fernandez Vaz e Danielle Torri.

Florianópolis, Curitiba, agosto de 2024.