Contemporânea Contemporânea #12 | Page 24

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JOGOS OLÍMPICOS

com a mão que se estende até a cabeça, fazendo menção a pátria amada que defendem. Defesa essa que faz pensar. No que defendem, o que defendem, e de uma necessidade de sinalizar que defendem. 

Segundo estudo de Costa et al, não há obrigação por parte do atleta de bater continência durante o pódio, sendo uma escolha do próprio esportista fazê-la ou não. Cabe dizer que o COI proíbe demonstrações políticas de qualquer origem nas celebrações olímpicas. Contudo, o gesto da continência parece não ser considerado uma manifestação politizada pela instituição. O que sugere uma questão da percepção do corpo do esportista e da extensão de seus movimentos. Sendo, talvez, a continência, um movimento sutilmente incorporado aos corpos dos atletas-militares, ao passo que se dissipa a compreensão de que aquilo não é exterior o corpo, como uma outra manifestação política poderia ser entendida. A continência, desse modo, pode ser analisada como um movimento que é do corpo, e não um movimento que é político.

Na edição olímpica de 2024, que acompanhamos agora, a delegação brasileira é composta por 277 atletas, dos quais 97 são atletas das Forças Armadas. Das questões que nos conduziram a este breve ensaio, consideramos importante o apoio financeiro e estrutural da instituição militar no Brasil; devido escassez de outros órgãos que possam subsidiar atletas, para que assim possamos inventar mais e mais corpos esportistas não-militarizados. Enquanto isso, fiquemos atentos aos corpos que se movimentam em busca do pódio, em busca da defesa da pátria, da continência, do ouro, da prata, do bronze... E de um resquício de pólvora. 

NOTAS

(1) Dos 92 atletas, 44 são da Marinha, 26 do Exército e 22 da Aeronáutica. Ver mais em:

https://www.gov.br/pt-br/noticias/cultura-artes-historia-e-esportes/2021/07/jogos-de-toquio-contam-com-mais-de-30-de-atletas-militares.

(2) O Bolsa Atleta é um dos maiores programas de incentivo direto ao atleta do mundo: “O programa

garante condições mínimas para que se dediquem, com exclusividade e tranquilidade, ao treinamento e a competições locais, sul-americanas, pan-americanas, mundiais, olímpicas e paralímpicas”. Nos Jogos de Tóquio, 242 dos 302 esportistas eram contemplados com o Bolsa Atleta. Ver mais em: https://www.gov.br/esporte/pt-br/acoes-e-programas/bolsa-atleta.

(3) O pentatlo moderno tornou-se um esporte olímpico nas Olimpíadas de Estocolmo, em 1912.

     REFERÊNCIAS 

BRASIL. Ministério da Cidadania. Bolsa Atleta. Disponível em: <https://www.gov.br/esporte/pt-br/acoes-e-programas/bolsa-atleta\>. Acesso em: 19 jul. 2024.

BRASIL. Ministério da Cidadania. Jogos de Tóquio contam com mais de 30% de atletas militares. Disponível em: <https://www.gov.br/pt-br/noticias/cultura-artes-historia-e-esportes/2021/07/jogos-de-toquio-contam-com-mais-de-30-de-atletas-militares\>. Acesso em: 19 jul. 2024.

CANCELLA, Karina Barbosa. O Esporte e as Forças Armadas na Primeira República: das atividades gymnasticas às participações em eventos esportivos internacionais (1890-1922). 220 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós-Graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

COSTA, Caroline S; ORDONHES, Mayara Torres; HERCULES, Emilia Devantel. CAVICHIOLLI, Fernando Renato. A repercussão midiática sobre atletas militares: o caso brasileiro. Revista Brasileira de ciência e movimento. v 31, n 1. 2023. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rbcm/article/view/12208. Acesso em: 21 jul. 2024.

ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação. Lisboa: Ed. 70, 2019. 

HECK, Sandra. Modern Pentathlon and the First World War: when athletes and soldiers met to practise martial manliness. The International Journal Of The History Of Sport, [S.L.], v. 28, n. 3-4, p. 410-428, mar. 2011. Informa UK Limited. http://dx.doi.org/10.1080/09523367.2011.544860.