Ouro, prata, bronze... E pólvora: um ensaio sobre a categoria atleta-militar
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JOGOS OLÍMPICOS
Do que é feito um campeão olímpico brasileiro? Como se fazem campeões?
Como brasileiros se tornam atletas olímpicos? E, não menos importante, como se chega ao ouro, a prata e ao bronze?
Das possíveis respostas que dizem tanto sobre ser campeão, quanto da possibilidade de ser olímpico, é o elemento brasileiro que nos faz considerar que para chegar ao ouro, a prata e ao bronze, é preciso de um algo a mais: um resíduo de pólvora...
Explicamos
Foi nos jogos olímpicos da Antuérpia, em 1920, empunhado de uma pistola, que Guilherme Paraense dizia ao mundo do que nosso país era feito. O atleta olímpico vindo de família humilde encontrou na carreira militar a possibilidade de ascender socialmente (MELO & ALMEIDA, 2002, p. 4), desenvolvendo-se como esportista. Foi aluno na Escola preparatória e Tática do Realengo, bem como, na Escola de Guerra do Rio Grande do Sul. Sua trajetória foi marcada desde muito cedo pelo contato com o militarismo, guiando-o ao lugar mais alto do pódio. Pela primeira vez na história, a medalha de ouro veio... Com um tiro.
Esse ensaio não se trata de recontar a história de Paraense, mas de traçar um paralelo com o interesse do exército em preparar corpos para a defesa do país, seja na guerra ou no pódio. Assim como foi com o tiro esportivo, modalidade que buscava “envolver mais intensamente interesses estatais relacionados a uma preocupação que crescera depois da Guerra do Paraguai: a defesa nacional” (MELO & ALMEIDA, 2002, p. 8). Constituindo uma nova categoria identitária, o atleta-militar.
O atleta-militar
Na última edição dos Jogos Olímpicos, sediados em Tóquio no ano de 2021, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) obteve o melhor resultado de sua história, conquistando a 12ª posição na colocação geral, com 21 medalhas, sendo 7 delas de ouro, 6 de prata e 8 de bronze. Desse expressivo montante, 8 (38,1%) foram conquistadas por atletas-militares. Dos 302 esportistas classificados aos Jogos, 92 (30,46%) eram membros das Forças Armadas e, não obstante, das 35 modalidades disputadas pelos brasileiros na Olimpíada, 7 delas (20%) foram disputadas somente por militares (1).
Esses significativos números se justificam pela existência do Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), atrelado ao Ministério da Defesa. O PAAR foi criado em 2008 com o objetivo de fortalecer a equipe militar brasileira em grandes eventos esportivos. Atualmente, é integrado por 551 contemplados em 30 modalidades distintas.
Os atletas-militares, além de contarem com diversos benefícios, são elegíveis ao Bolsa Atleta (2) e dispõem da estrutura das organizações militares para os treinos. A relação entre os militares e o esporte no Brasil, no entanto, antecede em muito a existência do PAAR.
Em 1865, muito antes da primeira edição das Olímpiadas Modernas (1896), o médico Pereira de Abreu, era enviado ao front da Guerra do Paraguai, onde permaneceu por dois meses. Como fruto de sua breve experiência no conflito, Pereira de Abreu escreveu um ensaio onde discorre sobre a necessidade de uma condição física adequada para a performance militar, num momento em que “as elites médicas e políticas debatiam o perfil que deveria ter o soldado enviado às frentes de batalha” (SILVA; MELO, 2011, p. 338-339) . Dessa forma, o corpo dos soldados tornou-se uma evidente preocupação, e dispor de um corpo “saudável e treinado, apto a superar as vicissitudes do conflito” virou uma obrigação aos combatentes (Idem., p. 344).
Vitor Henrique Tontini Steurer
Eduarda Moro