Congresos y Jornadas Didáctica de las lenguas y las literaturas. | Page 34
pode intuir a partir das respostas compiladas) como fonte de prazer, possibilidade de
evadir-se, sonhar; a leitura acadêmica como algo maçante, que entedia ou oferece
muitas dificuldades ao estudante.
Obviamente, admite-se que os textos podem demandar gestos de leitura
diferentes, isto é, estratégias distintas conforme sua natureza. Isso não significa, no
entanto, que apenas a natureza do gênero materializado seja o fator definidor da maior
ou menor dificuldade que a leitura ou escrita de um texto ofereça ao indivíduo. O ato de
ler um poema, numa dada situação, pode ser visto como algo prazeroso e sem maiores
entraves por um determinado leitor, ao passo que ler o mesmo poema, tomado como
objeto de análise para a escrita de um ensaio, por exemplo, pode levar o
leitor/escrevente a dificuldades não antes vivenciadas. A pretensa dificuldade, portanto,
não se restringe à natureza do texto, e sim envolve o conjunto de fatores que integram a
situação de leitura ou de escrita.
Outro aspecto a ser sublinhado com base na tabulação das respostas obtidas diz
respeito ao fato de que, para os estudantes da pesquisa, a ação de escrever – sejam
textos acadêmicos, sejam outros textos –, aparece mais vezes relacionada, nas tabelas 3
e 4, em comparação aos dados das tabelas 1 e 2, a fatores que marcam as dificuldades
encontradas pelos estudantes.
Sobre isso, duas hipóteses merecem ser consideradas: a primeira, inclusive
amparada por respostas sistematizadas na tabela 3, alude à concepção de que saber
escrever é um “dom”; em consequência, algo já dado, ou seja, algo com que se nasce ou
não. A segunda remete a uma representação da escrita como “um fenômeno de trans-
crição do pensamento”, envolvendo uma relação harmônica, direta e transparente, entre
pensamento e escrita. Estudos como os de Reuter (1998) e Delcambre e Reuter (2002),
dentre outros, comprovam a força dessa representação no discurso dos estudantes uni-
versitários. Em qualquer das duas situações, está-se tomando a escrita como algo que
parece não implicar um trabalho do escrevente, na medida em que seus requisitos
seriam, inclusive, anteriores ao próprio ato da escrita: possuir o dom e/ou o saber sobre
algo, isto é, conhecer bem aquilo sobre o que se escreve. Acerca desse último aspecto,
não se está afirmando que o conhecimento sobre o objeto do dizer não seja fundamental
para a atividade da escrita, porém isso não significa entender que as habilidades de
escrita se restrinjam ao conhecimento do objeto sobre o qual se escreve. Noutros
termos, o saber inclui, também, o saber dizer/escrever, numa dada situação de interação.
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