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Maio de 1968 e a transformação dos repertórios de ação coletiva na França
3. Os repertórios de 1968 e as dinâmicas de
interação com o estado
A revolta contra a reforma universitária, demandas libe-
ralizantes e as contradições do sistema universitário francês –
que mesmo diante de uma sociedade em plena transformação
cultural, mantinha um rígido sistema de ensino e problemas
estruturais em algumas unidades, tais como a Universidade de
Nanterre (Paris X) 19 - foram os incentivos iniciais para o início
do chamado movimento de maio na França. Inicialmente locali-
zado em Nanterre, ganhou corpo à medida que grupos estudan-
tis – também chamados de “grupúsculos” por De Gaulle – com
orientações de esquerda, principalmente trotkistas, anarquistas
e maoístas que exerciam constante atividade na faculdade de
letras de Nanterre, ampliaram as demandas das revoltas 20 .
O fator geracional teve um grande peso na manifestação
estudantil, de acordo com Isabelle Sommier 21 . Para a autora, a
identificação com demandas pós-materialistas se tornou mais
importante do que a identificação de classe que marcou as lutas
que os antecederam. Além disso, de acordo com Araújo, a gera-
ção de maio de 1968 ainda foi marcada pelos relatos heroicos de
guerras e conflitos armados da geração anterior, o que influen-
ciou o repertório de ação do confronto 22 .
Entre as primeiras performances utilizadas nas revoltas, esta-
vam a ocupação de prédios públicos e os comícios. A ocupação
das universidades marcou o início da revolta em Paris 23 . O mo-
vimento tomou conta de prédios universitários, dentre os quais
merecem destaque a Sorbonne e Nanterre. A Sorbonne estava
19 SOMMIER, Isabelle. Les processus de diffusion des révoltes juvéniles de 68. Histoire@
politique. Politique, culture, societé, n. 6, septembre-décembro 2008.
20 ARAÚJO, Maria Paula Nascimento. A utopia fragmentada: as novas esquerdas no
Brasil e no mundo na década de 1970. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000. p. 53.
21 SOMMIER, 2008, p. 04.
22 ARAÚJO, 2000, p. 35.
23 Esse repertório também marcou a revolta em seu estágio avançado. Em Strabourg,
a universidade foi tomada pelos estudantes, que a rebatizaram como a “Primeira
Universidade Livre do Ocidente”. Ver: ARAÚJO, 2000, p. 53.
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