(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 17
Teresa Cristina Schneider Marques
Segundo Traugott, uma leitura que parta da Teoria do Con-
fronto permite ainda verificar o momento “dobradiça”. Isto é,
muito embora as transformações de repertórios possam durar
anos para se cristalizar e apenas análises de longa duração pos-
sam ajudar a identificá-las, é possível identificar raros momentos
que marcam o abandono de um repertório em detrimento do
outro:
Embora a transição de um antigo para um novo repertório nor-
malmente ocorra em um período medido em décadas ou gerações,
Tilly acredita ser possível isolar o que ele chama de “dobradiça”: o
momento, normalmente associada a um conjunto de eventos de
referência, quando o predomínio de um estilo de protesto anterior
é suplantado irreversivelmente pelo do seu sucessor 11 .
Para Tilly, os ciclos podem ser considerados um momento
de “dobradiça”. Em outras palavras, o ciclo de protesto ou ciclo
de ação coletiva pode ser “a linha divisória da mudança social e
política” 12 , podendo inclusive promover a transformação dos re-
pertórios de ação no confronto político. Ele assume esse papel ao
“testar” a eficácia de uma ampla gama de performances perante
o Estado, bem como a sua legitimidade perante a sociedade em
um curto período. Assim, os ciclos de protestos se tornam um
momento não apenas de transformação da política, mas inclu-
sive da forma de fazer política, isto é, dos repertórios de ação.
Existem dois grandes processos que promovem evoluções
de repertórios, segundo Tilly e Tarrow. São eles: o processo
progressivo e as “transformações em turbilhão” 13 . O primeiro
11 Tradução livre do original: “Although the transition from an old to a new repertoire
usually takes place over a span measured in decades or generations, Tilly believes it
possible to isolate what he terms the “hinge”: the moment, typically associated with
a landmark set of events, when the predominance of an earlier style of protest is
irreversibly supplanted by that of its successor”. In: TRAUGOTT, Mark. Barricades
as Repertoire: Continuities and Discontinuities in the History of French Contention.
Social Science History, v. 17, n. 2, Summer 1993. p. 311.
12 TARROW, 2009.
13 Visando ofertar uma contribuição ao debate sobre os processos que impulsionam as
transformações dos repertórios de ação a partir da teoria do confronto, refleti acerca
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