Cidade Nova 5a4537ae25f16576780739pdf | Page 4

Janeiro 2018 | Cidade Nova | 9
quência de Deus e a sua frequência com os outros não eram duas coisas, eram uma coisa só e que se explicitava no seu modo de ser, de pensar, de viver a vida cotidiana. Chiara era uma pessoa que sabia escutar o Espírito Santo, escutava mesmo, e ao mesmo tempo era uma pessoa ávida de saber, de conhecer a realidade humana em todas as disciplinas. Isso não é muito comum, não. Ela seguia o Espírito Santo e seguia a história.
“ O que sempre me tocou profundamente em Chiara Lubich era a sua simplicidade, a perfeita harmonia entre o divino e humano, em todos os sentidos”
O que você mais aprendeu convivendo com toda a diversidade cultural que conheceu ao longo dos anos?
A beleza do pluralismo. E a importância do pluralismo cultural, existencial, mental, como riqueza. Mas como isso pode se transformar também em conflitos. Nessa minha experiência eu pude vivenciar como a gente pode ter uma identidade forte, real, e uma abertura plural, sem ficar meio doido, sem ficar fora do juízo. Mas numa postura, digamos assim, que não só é sadia, mas é evolutiva. Você cresce sempre, nunca termina de crescer, de amadurecer. Essa identidade plural. E não é relativa, relativismo. É identidade mesmo. Mas é rica de pluralidade. É relacional.
Na medida em que a espiritualidade se encarnou na formação dada aos membros do Movimento e também nas estruturas da Obra, houve uma prevalência de um estilo e forma de pensamento de uma perspectiva italiana, europeia?
Eu avalio isso como uma coisa necessária. Quando o filho de Deus se encarnou, ele se encarnou num homem da Palestina, num tempo determinado. Ele não se encarnou num homem universal, porque isso não existe. Toda encarnação traz esses limites, que são limites existenciais. Então o Movimento não podia se encarnar na Europa sem assumir as categorias de pensamento, de costume cultural da Europa, que já é plural. Porque o Movimento na Itália não é o mesmo que na Alemanha; o espanhol não é o francês, que não é o russo. Quando o carisma chega à África, à Ásia, à América Latina, ao Brasil, aos Estados Unidos, ele chega com aquelas categorias. Cabe a nós encarnar nas nossas categorias. Isso é o pluralismo verdadeiro. Você não pode exigir que um italiano pense como nós, porque ele não vai conseguir fazer isso. Somos nós que temos, sem negar o que ele fez, fazer o que nós temos que fazer, com aquela humildade de pensar que o que nós vamos fazer é também limitado. Agora, o que une todo esse pluralismo, essa maneira diferente de encarnar? A fonte. A fonte tem que ser a mesma.
Você participou do nascimento da Escola Abba, um centro de estudos interdisciplinares sobre a experiência mística feita por Chiara Lubich, sobretudo em 1949. Você poderia contar um pouco como foi essa experiência?
Foi o mesmo processo que eu descrevi até agora, mas num plano intelectual, num diálogo de disciplinas e categorias de pensamento, conceitos. E teve a sua peculiar dificuldade, porque colocar para conversar teólogos, sociólogos, psicólogos, médicos, arquitetos, engenheiros, juristas etc. é um desafio enorme. Mas o que fazia isso se tornar possível? Não se dialoga entre categorias, dialoga­-se entre pessoas que têm categorias diferentes. Então Chiara nos pedia que antes de ser intelectuais, fôssemos irmãos, nos tratássemos como irmãos. E Chiara como mestra era exigente, viu? Ela não deixava passar nada. Quando você expunha a sua ideia e, na paixão, no calor, na crítica acadêmica, saía dessa fraternidade, desse amor pelo outro, ela mandava parar. Ela parava e dizia:‘ agora você vai dizer tudo o que você disse, que como conteúdo estava certo, mas como forma, atitude interior, estava errado. Então vai dizer tudo de novo com amor’. Isso fazia com que o diálogo fosse alto não só cientificamente, mas também espiritualmente. Essa é a experiência da Escola Abba. Isso fazia também uma caixa de ressonância, c

Janeiro 2018 | Cidade Nova | 9