um conto de águas
Na Cidade do Porto, há misteriosamente es-
condida uma longa rede de águas fechadas,
onde outrora esta mesma rede existia a céu ab-
erto, se recuarmos aos tempos da Idade Média.
O rio da Vila formava-se onde atualmente se sit-
ua a Praça de Almeida Garrett com as águas de
dois mananciais:
Um manancial nascia por alturas da atual
Praça do Marquês de Pombal, descia a céu aber-
to através da Quinta do Laranjal (atual Avenida
dos Aliados), passava pelo antiquíssimo Casal de
Pai Novais, depois Campo das Hortas (a Praça da
Liberdade dos nossos dias), alimentando hortas,
alfobres e lavadouros.
O outro tinha a sua origem nas elevações da
Fontinha, descia por Fradelos, Bolhão, onde se lhe
juntavam a água de um terceiro ribeiro; percor-
ria o terreno que é na atualidade a Rua de Sá da
Bandeira e juntava-se ao primeiro num local que
podemos indicar como ficando mesmo em frente
da estação de S. Bento, formando a partir daí o
célebre Rio da Vila, onde a cidade depositava to-
dos os seus dejetos, transformando-o num ver-
dadeiro foco infecioso. É evidente que, durante
muito tempo, as águas daqueles referidos ribeiros
correram a céu aberto, sendo aproveitadas para
rega de hortas e abastecimento de lavadouros.
Por decisão municipal foi encanado em 1872.
Em 1927, na Praça da Liberdade, na parte mais
próxima da Praça de Almeida Garrett, junto à Es-
tação de São Bento, realizaram-se importantes
obras destinadas à instalação de um enorme co-
letor. Esses trabalhos puseram a descoberto in-
úmeras galerias subterrâneas, algumas por onde
passariam os tais ribeiros, que durante algum
tempo ficaram a céu aberto expostas à curiosi-
dade pública. Sobre essas galerias teceram-se as
mais imaginosas considerações atribuindo-lhes,
segundo uma curiosa crónica do tempo, “funções
clandestinas de intercomunicações para os nu-
merosos conventos de frades e de freiras que por
ali existiam”.
Há um projeto de Musealização da Galeria do
Rio de Vila, que as Águas do Porto pretendem de-
volver à cidade.
A parte que está considerada, corre entre a Es-
tação de S. Bento (Junto ao Metro) e o Largo de
São Domingos, passando pela Rua Mouzinho da
Silveira. Pretende-se tornar acessíveis 350 metros
que correm por baixo e onde, segundo a empre-
sa, é possível encontrar vestígios desde a época
Romana até à atualidade, apresentando mais uma
“peça” da Cidade.
Segundo as Águas do Porto, o Rio da Vila é de
uma grande importância, para dar a conhecer ao
publico em geral, às escolas, aos turistas e visi-
-tantes, alavancado complementarmente o
conhecimento e a interpretação da evolução
do espaço urbano do Centro Histórico do Por-
to, atendendo que encontra-se em galeria que,
maioritariamente, é constituída por hasteais e
abóbada em pedra granítica apresentando em
si uma beleza histórica, cultural e patrimonial.
Considera-se assim, tornar pela sua originali-
dade, mais um fator de atração, com a possibili-
dade de vir agregar todos os percursos subterrâ-
neos de tipologia idêntica existentes na cidade.