08/12/2014
Josey Wales: O Fora-da-Lei, de Clint
Eastwood
(The Outlaw Josey Wales: EUA, 1976 – 135
min.)
Logo após o término da Guerra Civil
americana, Josey Wales, um pacato fazendeiro,
se transforma num cruel justiceiro dos
Confederados para vingar o massacre de sua
família por um grupo de criminosos aliados ao
exército da União.
Trechos de: “Josey Wales: O Fora-da-Lei”, por Fernando Veríssimo.
Íntegra: http://www.contracampo.com.br/45/joseywales.htm
A sequência de abertura de Josey Wales - O Fora da Lei é um destes momentos
que sintetizam e justificam em poucos minutos toda a obra de um cineasta. Não há qualquer
espécie de diálogo (senão uma rápida troca de palavras no final), o predomínio da ação é
absoluto; as imagens tem um incrível poder de síntese, como cabe ao trabalho de um legítimo
herdeiro do cinema clássico. A narrativa obedece à regra do máximo de economia, com extremo
rigor.
Todo o cinema de Clint Eastwood está contido neste prólogo: a deferência
prestada aos mestres (principalmente Sergio Leone com seus cortes secos e troca de olhares em
super-close), a morte como força que define e orienta as vidas, a cicatriz que expressa uma
grande perturbação interior. Mais que uma introdução à história de Josey Wales, esta sequência
é uma verdadeira fundação do universo de Eastwood.
O filme se abre com imagens bucólicas: um homem e seu pequeno filho cultivam
a terra quando ouvem um chamado feminino; é a mãe que vem buscar a criança para o jantar.
Nada mais que cinco ou seis planos para estabelecer o lugar da utopia familiar, de um lirismo
demolidor. Este espaço de perfeito equilíbrio é destruído com a mesma rapidez com que foi
construído: em meio a gritos e fogo, o agricultor vê sua família e sua casa sofrerem o colapso na
mão de bárbaros saídos de lugar algum. Com um plano genial mergulhamos definitiva e
irrevogavelmente na tragédia: o agricultor arrasta um saco com os cadáveres até a cova quando
uma mão de criança escorrega para fora. O homem observa por um único segundo antes de
cobrir novamente a mão e continuar seu caminho -- e este segundo em que não vemos nada,
nenhuma expressão, é a expressão máxima do classicismo exemplar de Eastwood, muito
próximo de John Ford.