O filme é centrado na relação entre Gary Cooper e Lancaster, o primeiro um
gentleman “ainda que apenas de forma intermitente”, como bem define Jacques Lourcelles, e o Joe
Erin de Lancaster, que muito bem se define como um porco, no ponto em que o filme apresenta
seu principal conflito: um baú com 3 milhões de dólares pertencentes ao exército mexicano, o qual
eles terão que escoltar por um longo percurso até a cidade de Vera Cruz, e tendo como ameaça os
rebeldes e o próprio exército. Pela metade do filme, eles caem numa emboscada de rebeldes, e Joe
Erin tem problemas numa luta com alguns deles, com Bud Trane (Cooper) salvando-o. Na cena
seguinte, os dois cavalgam juntos e Erin diz que se Bud não tivesse feito isso, teria ficado mais rico
e conta a história de Ace Hanna, que matou seu pai e depois o adotou. Ace dizia que não se devia
fazer favores se não fosse obrigado, e que ele teve a comprovação quando foi morto por Erin mais
tarde. Erin então fala que é a primeira vez que conta para alguém a história de sua vida.
Aí é estabelecida a improvável amizade entre os dois: Erin, que não tem e nunca teve
um amigo (tem apenas capangas) e admira Trane por sua perspicácia e pela sua experiência
lutando com os Confederados na Guerra da Secessão. Trane diz que cometeu o erro de lutar na
própria terra. Mas a guerra não destruiu apenas a sua propriedade, Erin parece insinuar. É
impossível haver qualquer confiança entre os dois. Assim, o nome de Ace Hanna continua sendo
citado e seus ensinamentos são imperativos. Por isso, quando os dois mudam de lado na guerra, e
acompanham os rebeldes supostamente em troca duma parte do ouro apenas, Erin prefere
acreditar que Trane está blefando. Porém ele não está, e realmente prefere que o ouro fique com
eles.
Ainda que Gary Cooper saia como o mocinho do filme, é notável o modo como
Aldrich enquadra o personagem de Burt Lancaster – é evidente que ele é o interesse do filme. Em
diversas cenas o quadro com a largura do Superscope permite que ele fique no canto, analisando a
conversa dos outros personagens, sublinhando as conversas com comentários sarcásticos ou
apenas com expressões faciais. Mas nos closes é que a atuação de Burt Lancaster mostra sua
grandeza: vemos o sorriso inebriante (Lourcelles novamente) de Joe Erin se formando aos poucos,
tomando grande porção do quadro com seu brilho, enquanto seus olhos azuis se modulam
formando a expressão cínica que o personagem mantém diante de tudo (seja mantendo algumas
crianças de refém, ou matando friamente um soldado comum a baioneta, ou até mesmo
declarando a sua amizade a Trane).
Dessa forma o duelo dos dois ao final não é só pelo ouro, ou por uma amizade que
acaba numa espécie de traição (de uma ironia espetacular: Erin se decepcionaria com Trane porque
este prefere dar o dinheiro para o povo do que guardar para si): é onde Aldrich confronta sua
misantropia com um sentimento de comunidade e generosidade, que nada tem de gratuito – a
construção do personagem de Gary Cooper é muito bela. As cenas com Nina, a personagem de Sara
Montiel, uma mexicana batedora de carteiras que se junta ao mutirão na esperança de chegar a
Vera Cruz, contribuem muito para isso.
Assim, o que seria o happy ending é de um pessimismo e amargura gigantescos – o
plano do casal an dando sobre os corpos da batalha entre o exército e os rebeldes é notavelmente
sombrio, e subscreve a lamentação da morte de Joe Erin, junto às lágrimas de Trane. Aldrich disse
em sua entrevista com Truffaut para os Cahiers du Cinéma nº 64 (novembro de 1956) que “seus
personagens lutam até o fim porque o sacrifício voluntário de sua vida é o ápice da integridade
moral. O suicídio é um ato de rebeldia”. No final desse filme está representada toda a generosidade
paradoxal que Aldrich coloca nessa fala, com toda a força política que nela está implicada – o
sacrifício da vida em favor da própria vida.