Catálogo Cine FAP Western | 页面 12

O filme é centrado na relação entre Gary Cooper e Lancaster, o primeiro um gentleman “ainda que apenas de forma intermitente”, como bem define Jacques Lourcelles, e o Joe Erin de Lancaster, que muito bem se define como um porco, no ponto em que o filme apresenta seu principal conflito: um baú com 3 milhões de dólares pertencentes ao exército mexicano, o qual eles terão que escoltar por um longo percurso até a cidade de Vera Cruz, e tendo como ameaça os rebeldes e o próprio exército. Pela metade do filme, eles caem numa emboscada de rebeldes, e Joe Erin tem problemas numa luta com alguns deles, com Bud Trane (Cooper) salvando-o. Na cena seguinte, os dois cavalgam juntos e Erin diz que se Bud não tivesse feito isso, teria ficado mais rico e conta a história de Ace Hanna, que matou seu pai e depois o adotou. Ace dizia que não se devia fazer favores se não fosse obrigado, e que ele teve a comprovação quando foi morto por Erin mais tarde. Erin então fala que é a primeira vez que conta para alguém a história de sua vida. Aí é estabelecida a improvável amizade entre os dois: Erin, que não tem e nunca teve um amigo (tem apenas capangas) e admira Trane por sua perspicácia e pela sua experiência lutando com os Confederados na Guerra da Secessão. Trane diz que cometeu o erro de lutar na própria terra. Mas a guerra não destruiu apenas a sua propriedade, Erin parece insinuar. É impossível haver qualquer confiança entre os dois. Assim, o nome de Ace Hanna continua sendo citado e seus ensinamentos são imperativos. Por isso, quando os dois mudam de lado na guerra, e acompanham os rebeldes supostamente em troca duma parte do ouro apenas, Erin prefere acreditar que Trane está blefando. Porém ele não está, e realmente prefere que o ouro fique com eles. Ainda que Gary Cooper saia como o mocinho do filme, é notável o modo como Aldrich enquadra o personagem de Burt Lancaster – é evidente que ele é o interesse do filme. Em diversas cenas o quadro com a largura do Superscope permite que ele fique no canto, analisando a conversa dos outros personagens, sublinhando as conversas com comentários sarcásticos ou apenas com expressões faciais. Mas nos closes é que a atuação de Burt Lancaster mostra sua grandeza: vemos o sorriso inebriante (Lourcelles novamente) de Joe Erin se formando aos poucos, tomando grande porção do quadro com seu brilho, enquanto seus olhos azuis se modulam formando a expressão cínica que o personagem mantém diante de tudo (seja mantendo algumas crianças de refém, ou matando friamente um soldado comum a baioneta, ou até mesmo declarando a sua amizade a Trane). Dessa forma o duelo dos dois ao final não é só pelo ouro, ou por uma amizade que acaba numa espécie de traição (de uma ironia espetacular: Erin se decepcionaria com Trane porque este prefere dar o dinheiro para o povo do que guardar para si): é onde Aldrich confronta sua misantropia com um sentimento de comunidade e generosidade, que nada tem de gratuito – a construção do personagem de Gary Cooper é muito bela. As cenas com Nina, a personagem de Sara Montiel, uma mexicana batedora de carteiras que se junta ao mutirão na esperança de chegar a Vera Cruz, contribuem muito para isso. Assim, o que seria o happy ending é de um pessimismo e amargura gigantescos – o plano do casal an dando sobre os corpos da batalha entre o exército e os rebeldes é notavelmente sombrio, e subscreve a lamentação da morte de Joe Erin, junto às lágrimas de Trane. Aldrich disse em sua entrevista com Truffaut para os Cahiers du Cinéma nº 64 (novembro de 1956) que “seus personagens lutam até o fim porque o sacrifício voluntário de sua vida é o ápice da integridade moral. O suicídio é um ato de rebeldia”. No final desse filme está representada toda a generosidade paradoxal que Aldrich coloca nessa fala, com toda a força política que nela está implicada – o sacrifício da vida em favor da própria vida.