Catálogo Cine FAP Western | Page 11

Trechos de:“ As Três Mortes de Burt Lancaster”, por Bruno Kondlatsch Reddin.
Ao final de Apache( 1954), o índio apache Massai percebe que está sendo encurralado, após se esconder com sua amada( também apache) Nalinle, nas montanhas. Ele se despede dela, pede que cante para o filho que está para nascer, e parte para uma batalha suicida. O guerreiro agora é obrigado a lutar mais sozinho do que nunca, sem as sombras ou a natureza para jogá-lo para fora do campo; agora há apenas um sol escaldante e uma câmera que o persegue enquanto arremessa o corpo contra seus inimigos. Massai é baleado, mas se esconde na plantação de milho que ele e Nalinle mantêm. Al, o personagem de John McIntire, se arrasta pela plantação atrás dele, e é enganado pelas pegadas falsas que o apache deixa. Os dois entram numa briga, que é interrompida quando ouvem o choro do filho de Massai. O índio corre para conhecer seu filho, a batalha é encerrada( não sem antes um estranhíssimo suspiro dos vilões), e o filme acaba.
Após a cena onde toda a violência do personagem de Burt Lancaster aparece desnudada, onde ele afirma categoricamente sua condição de guerreiro, e mais do que isso, a impossibilidade de conciliação entre ele e os brancos, e até mesmo entre ele e os outros apaches – há essa quebra. Aldrich não gostava desse final, e para ele o encerramento ideal seria Massai sendo morto pelas costas por Hondo, um“ ex-apache” interpretado por Charles Bronson( então Charles Buchinsky).
Tendo isso em mente, pensemos um pouco sobre Aldrich. Muito se diz sobre seu pessimismo apocalíptico, sobre sua violência e brutalidade, sobre seu niilismo. Também se diz como sempre se manteve numa condição de maverick, tendo uma relação conturbada com produtores e exibidores, dividindo opiniões da crítica americana, e defendendo radicalmente a liberdade criativa do realizador. Rivette muito cedo enxergou as qualidades de Aldrich, colocando-o no mesmo patamar de Ray, Brooks e Mann, como os grandes modernos do pósguerra. Mas algo que se deve considerar é que Aldrich não é um cineasta revisionista. Não há o interesse em rever convenções do western, mesmo num filme cujo protagonista é um índio apache. Se Mann e Ray trazem qualidades novas para o gênero, mas considerando o mito e os personagens comuns aos filmes, para Aldrich o oeste parece ser mais um momento da história, e um filme como Apache poderia ser transcrito para qualquer tempo facilmente. Massai é acima de tudo um herói trágico.
Mas isso tudo é porque o diretor não tem outra opção senão ser crepuscular. Não há aceno para o progresso. A moralidade decadente que tanto será destacada mais tarde em alguém como Peckinpah, é inerente ao cinema de Aldrich, e é a força motriz de um filme como Vera Cruz, do mesmo ano de Apache. Vera Cruz, outro filme violentíssimo, ainda que de um filme para outro Aldrich pareça ter encontrado uma depuração de seu estilo e da abordagem aos temas que lhe são caros – e que se encontravam de certa forma concentrados em alguns momentos de Apache, mas escondidos por trás da paixão exacerbada do filme( até para os níveis do diretor), e da necessidade de um olhar idílico para a natureza. Aqui experimentamos a sátira social e o barroquismo que depois encontrarão sua excelência em Com a maldade na alma e O que terá acontecido a Baby Jane?.