Catálogo Cine FAP Segundo Semestre de 2017 | Page 9

Agosto/2017 28/08/2017 Stop Making Sense, de Jonathan Demme (Stop Making Sense: EUA, 1984 - 99 min.) Um inovador filme-concerto para a banda de rock Talking Heads. Texto: “Estado de Graça”, por Jorge Mourinha Em: https://www.publico.pt/2017/08/31/culturaipsilon/critica/estado-de-graca-1783826 São muitos aqueles que consideram Stop Making Sense o melhor filme-concerto jamais realizado — e esclareça-se desde já que não vamos ser nós a contrariar essa opinião. Finalmente chegado ao circuito comercial português, mais de 30 anos depois da sua estreia original, Stop Making Sense mantém intacto o “estado de graça” com que, em 1984, registou em filme o zénite de uma banda em pico de forma. A produção de palco, filmada durante a digressão do álbum de 1983 Speaking in Tongues, via a angularidade cerebral de um grupo forjado no cadinho da New Wave nova-iorquina render-se ao abandono sensual e corporal da dança, da soul, da funk. Começando com o espantoso solo de Psycho Killer para David Byrne (viola acústica e tijolo com ritmo pré-gravado), com o palco a ganhar lentamente forma por trás do vocalista enquanto músicos, estrados, instrumentos e microfones preenchem aos poucos o espaço, Stop Making Sense torna-se numa espécie de ritual tribal onde mente e corpo se fundem lentamente num único todo, com a figura desarticulada de Byrne como foco público dessa conversão quase espiritual ao delírio carnal da dança e do ritmo. É quase como se estivéssemos a assistir a um sermão onde as palavras são substituídas pelos ritmos e pelos passos — e se Byrne é o reverendo xamânico que nos converte ao poder da música, a câmara do recém-falecido Jonathan Demme é a testemunha plena dessa conversão.