Catálogo Cine FAP Segundo Semestre de 2017 | Page 14

de Lewis. A matéria prima da qual é feito O Mensageiro Trapalhão é basicamente Jerry Lewis, o ator. Mais do que em qualquer outro dos seus trabalhos, o Lewis cineasta se adapta ao comediante. Trata-se de explorar o que o corpo de Lewis pode fazer: se relacionar com o espaço, com a câmera, se contorcer, tripudiar sobre quem mais dividir o quadro com ele. Neste exercício extremo de redução do cinema ao mínimo essencial, Lewis se nega até mesmo o direito à fala. O Mensageiro Trapalhão funciona a partir de um dispositivo que poderia ser descrito como uma espécie de escultura filmada cujo objeto central é Lewis, o ator (ele parece funcionar como ponto de fuga do quadro mesmo quando o cineasta não o coloca nesta posição). Lewis já havia recebido excelente direção de Frank Tashlin, mas certamente ressentia de nos filmes de Tashlin existir como escada para sátira (vale lembrar que Lewis é um ególatra quase tão grande quanto Chaplin), e aqui ele dá a seu corpo a liberdade de existir sem mediação. O Mensageiro Trapalhãopouco significa, Lewis simplesmente atravessa o filme tropeçando numa esquete cômica atrás da outra. O único tema do filme é a figura concreta do seu ator-autor. A certa altura, a mascara cai e Lewis surge como si próprio e observamos o espetáculo de todo mecanismo do filme entrar em mutação para adaptar esta nova figura que partia do mesmo corpo que dominava o filme anterior. Nada mais justo. O Mensageiro Trapalhão é o tributo de Lewis cineasta para sua figura cinematográfica.