Catálogo Cine FAP Primeiro Semestre de 2017 | Page 19
Trechos de: “Síndrome Mortal”, por Alan Barcelos.
Íntegra: http://www.nivelepico.com/2011/10/20/sindrome-mortal/
Dario Argento é um dos grandes nomes do cinema de terror, sendo mais conhecido
por sua preferência pelo gênero giallo nos seus filmes. Porém, com Síndrome Mortal (La Sindrome
di Stendhal, 1996), apesar de manter um pouco desta veia giallo, ele resolveu investir numa
premissa diferente, um filme mais artístico e conduzido por um terror mais sutil e psicológico. Dario
Argento faz o que ele mais gosta de fazer — inovar. Não obstante, o longa aprofunda o apreço do
cineasta pelo estudo da mente humana e das peças que ela pode nos pregar.
[...[Para completar, o diretor trabalha com a violência de uma forma tão niilista que
torna o filme frio e áspero, com um toque chocante que lembra muito os filmes de terror das
décadas e 70 e 80 — época, aliás, de muitos filmes do próprio Argento. A atmosfera do longa ainda
tem sua estranheza ampliada pela trilha sonora de Ennio Morricone, que realça com perfeição o
olhar pungente do diretor. O mundo de Síndrome Mortal é um lugar quase que completamente sem
emoção, onde um serial killer é capaz de estuprar e atirar na cabeça das vítimas com
despreocupação e um sorriso estampado no rosto. Mesmo quando parece que as emoções vão jorrar
e aquecer este mundo desolador, a realidade mostra-se cruel em subverter o que seria uma
representação de carinho e segurança. Dario Argento perverte os conceitos e brinca com a dualidade
das coisas. Homens e mulheres, bandidos e mocinhos, bem e mal, nada disso tem valor realmente
ante uma mente cuja síndrome mortal é mudar ingredientes padrões do horror e adaptá-los em
gêneros completamente diferentes e inusitados. Apesar do aspecto experimental, Síndrome
Mortal tem um toque raro de originalidade. E Dario Argento surpreende como poucos.
[...]PS: A Síndrome de Stendhal (ou síndrome de sobredose de beleza) foi observada
pela primeira vez pelo escritor francês Marie-Henri Boyle que, ao visitar a cidade de Florença, em
1817. A doença é caracterizada por aceleração do ritmo cardíaco, vertigens, falta de ar e mesmo
alucinações, decorrentes do excesso de exposição do indivíduo a obras de arte, sobretudo em
espaços fechados. O escritor francês descreveu sua experiência como: “absorto na contemplação de
tão sublime beleza, atingi o ponto no qual me deparei com sensações celestiais. Tive palpitações,
minha vida parecia estar sendo drenada”. O transe mental provocava uma euforia que o
desnorteava completamente. A síndrome só foi diagnosticada e catalogada em 1982 e recebeu o
nome Stendhal porque este era um pseudônimo de Marie-Henri Boyle. A curiosidade por trás do
filme é que Dario Argento diz ter passado por uma experiência com a síndrome quando criança. De
férias em Atenas, Grécia, com os pais, Dario escalava as escadarias do Partenon quando foi atingido
por um transe que fez com que ficasse perdido de seus pais por horas. Assim, ele transformou sua
experiência infantil na ideia do filme.