Trechos de: “Sobre Poltergeist (Tobe Hooper, 1982)”, por Julius Banzon.
Tradução: Fernando Costa.
Se houvesse um caso a ser feito em defesa da autoria de Hooper em Poltergeist,
seria o fato de seu ritmo interno – sua lentidão e sua sutileza.
Os filmes de Spielberg, mesmo em seus melhores momentos, são raramente
lentos e dificilmente sutis. Os movimentos que ele cria são normalmente dispositivos para
extrema ênfase, animação ostensiva, uma injeção de emoção ou adrenalina. Seus filmes são
movimentados com a forma, e com a sensibilidade visual, de uma história em quadrinhos –
painéis e eventos sendo apressados por floreios da montagem de ação e nitidez gráfica.
Hooper, por outro lado, é um cineasta comparativamente acuado, minimalista e
maneirista. Sua construção de cenas é silenciosa e desapressada, lenta e uniforme. Muitos de
seus movimentos são bastante alheios à uma tabela narrativa/dramática (ao invés disso,
servem esteticamente, e manifestam temas e sentimentos de modo mais abstrato – menos
baseado em eventos). O movimento de seus filmes é semelhante à forma lenta, elegantemente
rasteira de sua câmera, com o ritmo determinado pelo languidez do olho que filma (um que
realmente mergulha nas texturas que encontra em sua frente) – e não o estímulo de um corte
gráfico ou quadros compostos para o máximo de espetáculo ou tonalidade pop.
A direção de Spielberg se trata muito de entusiasmo e dinamismo tolo. Batida a batida, ou
quadro a quadro, ele constrói – nas linhas de forte narrativa e de função dramática - para o
máximo de movimento e energia ágil e brusco impacto emocional.
A direção de Hooper se trata mais de uma graça e de uma musicalidade muito
formal. Não batida a batida, mas dentro de frases completas, ele constrói – com um
desprendimento único de objetivos narrativos e dramáticos óbvios – para o fluxo máximo da
singular e fluente frase viso-melódica, e uma paciência geral, encontrada num paradoxal
"minimalismo intricado": aquele que não regride para conseguir o brusco, peculiar, hiperefeito,
mas viceja em esteticismo descarado e intricado, encontrando adicional paciência e valiosa
seriedade artística no seu poder de sutileza.
Para destilar essa diferença a partir de uma característica específica de direção,
pode-se colocar assim: Spielberg não é bem um diretor de planos longos, e ele não dirige
evitando planos de cobertura e edição. Isto não quer dizer que ele não use esses elementos
com maestria, nem que não execute algum plano único inteligente, mas apenas que ele não tem
a inclinação de deliberadamente evitá-los na criação de set-pieces rarefeitas. Hooper tem muito
de um diretor de planos-sequências e ele ativamente dirige evitando a necessidade de
coberturas de cena extensivas e edição (como já foi desenvolvido neste blog, Hooper acessa
suas cenas não de um ponto de vista literal, mas abstrato em que distância e inacessibilidade
são o método formal e o objetivo) – e Poltergeist possui muito de uma câmera sustida e em
perspectiva, devagar e austera, uma câmera que se desloca no espaço com firmeza e paciência
(o que vem a caracterizar o filme inteiro com uma qualidade paciente e quieta).