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3 Carta do povo São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2018 “Quem defende a Ditadura não sabe o que está falando” — entrevista com o Vereador Gilberto Natalini .Entrevista Político revela horrores vividos na ditadura militar Policiais acompanhando manifestação na Avenida Paulista – Yuri Dinalli/Carta do Povo Em entrevista concedida no último dia 25 de setembro de 2018, na Câmara dos Vereadores de São Paulo, o Vereador e, à época, candidato a Deputado Federal pelo Partido Verde, Gilberto Tanos Natalini, 66, promove reflexão sobre os possíveis resquícios da Ditadura Civil Militar brasileira. Preso e torturado 17 vezes durante o período ditatorial, Natalini relembra, há exatos 43 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, as práticas do fantasma do General Carlos Alberto Brilhante Ustra e faz duras críticas ao Partido dos Trabalhadores. CARTA DO POVO: Você fala abertamente, inclusive no livro “Na Luta”, a respeito das angústias que sofreu durante o período militar. Para iniciarmos, gostaria de ter um panorama geral daquela época, através do seu olhar. GILBERTO NATALINI: Eu era muito jovem. Em 64, quando teve o golpe, eu fui imediatamente preso pelas minhas convicções. Eu era muito ativo e logo me coloquei como opositor ao Regime Militar. Isso ainda na época de colégio, depois entrei na faculdade, em 70, na Escola Paulista, onde organizamos um grupo de resistência à Ditadura. A gente ajudava presos e perseguidos políticos com remédios, consultas, enfim. Reorganizamos o Centro Acadêmico… Eu fui, durante a Ditadura, 17 vezes preso por minha militância política no movimento estudantil. Mesmo depois do movimento estudantil, no movimento popular, como médico, também fui diversas vezes preso. A primeira prisão foi em 72, eu tinha 19 anos e fui preso no DOI-CODI; fui muito torturado pelo Coronel Ustra e pela equipe dele, mas, por ele, pessoalmente. Eu sofro de disfunção de audição nos dois ouvidos por causa de choque elétrico. Vivi na carne o efeito da Ditadura, a repressão violenta, física e mental; minha família também sofreu com isso, e, por tabela, foi levada pra lá, tios, tias, primas… ficou uma marca muito profunda em mim de terror, né, de horror, desse tipo de atitude de um governo, um regime antidemocrático, um regime onde a perseguição política, a prisão e a tortura viraram rotina de estado. CP: Após 54 anos do golpe militar, você acredita que ainda vivemos algumas sombras deste período? GN: É claro que isso influiu muito na vida brasileira; sempre fica uma marca que demora décadas pra ser digerida pela sociedade, e eu acho que até hoje nós temos consequências graves dos governos da Ditadura Militar, consequências políticas, sociais e também econômicas. Agora, é claro que os problemas que nós enfrentamos hoje no Brasil não são exclusivamente devidos ao Regime Militar. O Brasil teve a oportunidade de reconstruir a sua