Campo Prático, caso do Idoso - afeto. 1 | Page 17

A urgência deles conosco era de fato necessária e não os momentos darem certo para a gente conseguisse que nosso objetivo fosse concluído. Foi importante desconstruir o imaginado, o estipulado, o enumerado. Foi necessário acima de tudo a entrega, pois como diz Freire (1996, p.94), “Me movo como educador porque, primeiro, me movo como gente”. E a gente cresce quando aprende, a gente aprende sentindo e fazendo, cresce de novo, se reescreve, ajusta os olhares e enriquece. A transformação é notória, é inexpressível.

E a música apareceu como o ponto central, ela deu resignificado a palavra afeto. Ela empoderou os idosos e o momento. Ela fez aquele território se tornar o quintal de casa em um dia de festa. Ele é mostrou uma grande mediadora e amiga. Foi um abraço de pai e um colo de mãe.

Ela tratou a comensalidade como um café da manhã compartilhado, onde apesar dos idosos não conseguirem ajudar um ao outro, nós conseguimos ajuda-los e com isso não deixamos de expressar um momento de partilha. Então a alimentação ali acontecia muito além de uma necessidade fisiológica, ela acontecia como uma troca de afeto, como uma comunicação, como um eu estou aqui e valorizo você.

Na alimentação humana, natureza e cultura se encontram, pois se comer é uma necessidade vital, quando e com quem se come também são aspectos que fazem parte de um sistema que implica atribuição de significados ao ato alimentar (MACIEL, 2001).

O comportamento alimentar do homem não se diferenciou do biológico apenas pela invenção da cozinha, mas também pela comensalidade, ou seja, pela função social das refeições. A cocção dos alimentos, dessa forma, adquiriu enorme importância nesse plano, por favorecer as interações sociais (MOREIRA, 2010).

Assim também, Maciel (2001) ressalta que o mais importante na alimentação humana é o com quem comemos, pois envolve partilha e comensalidade, transformando o ato alimentar, de biológico em social. O “comer juntos” reforça a união da família ou grupo, pois além de partilhar a comida, partilham-se as sensações.

O vivenciado tem como identidade a gratidão, principalmente por criar novos significados e identidade para um grupo que necessita tanto de amor. É sobretudo a partilha que importa, mais do que a própria composição da refeição (JOANNÈS, 1998).