Poesia e ética em Giorgio Agamben Jerônimo Milone *
A relação em que Agamben situa a poesia no seu pensamento faz transparecer o caráter eminentemente ético e político do fazer poético. Tal advento da eticidade se estabelece através da assunção da poesia como singular possibilidade de desvelamento da inoperância. Esta inoperância constitui no pensamento de Agamben o objetivo fundamental da crítica na medida em que a crítica esquiva a inoperância da captura, isto é, da operacionalização. Esta possibilidade de desvelamento do inoperável dentro da língua, Agamben conceitua como experimentum linguae, colocando-o sobre responsabilidade da poesia, mediante a apresentação, que se realiza no fazer poético, daquela fratura em que se situa a palavra na tradição ocidental. Nesta revalorização da experiência, em oposição ao saber técnico, Agamben proporá a quete, cuja finalidade reside na experiência desta fratura, constituindo assim, uma experiência da aporia. Veremos então, através das contribuições de Jacques Derrida em Força de Lei, em que sentido esta experiência da aporia torna-se condição de possibilidade para o agir ético. Tais considerações de Derrida assomam-se às de Agamben, que entrevê nesta experiência da fratura da língua o desvelamento de toda cinoperância sendo esta inoperância, justamente, o motor de toda operacionalização e tecnicismo bio-político. Analogamente, também, à concepção do dispositivo foucaultiano como a relação entre o dito e o não-dito. Agamben, através da recolocação do problema significante-significado, sob a perspec- * Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, nesta circunstância bolsista da Capes. Bacharel em Filosofia( PUCRS).
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