Caderno de resumos do VII Seminário Temático Filosofia Ética e Políti Jun. 2016 | Page 16

A condenação da linguagem Gustavo Jugend* É notória a influência que Giorgio Agamben recebe da literatura de Franz Kafka. Dentre as diversas referências que o filósofo faz ao escritor, chama-nos atenção aquela presente na obra Idéia da Prosa. No ensaio Idéia da linguagem II, ao tematizar a máquina judicial kafkiana presente em Na Colônia Penal, Agamben afirma: “[...] o aparelho de tortura inventado pelo ex-comandante da colônia é, de facto, a linguagem. [...]. Na lenda, a máquina é, de facto, antes do mais, instrumento de julgar e punir. Isto quer dizer que também a linguagem, nesta Terra e para os homens é um instrumento do mesmo tipo” (AGAMBEN, 1999, p. 113). Revisitando o conto de Kafka observamos que a execução da máquina se dá sob a forma de tortura resultando que o sentenciado conheça sua condenação não sob a forma da linguagem, mas “na própria carne” (KAFKA, 1986, p. 40). A experiência inenarrável atinge sua impossibilidade linguística justamente na conclusão de sua justiça: “Mais nada acontece, o homem simplesmente começa a decifrar a escrita, faz bico com a boca como se estivesse escutando. [...]. Mas aí o rastelo o atravessa de lado a lado e o atira no fosso, onde cai de estalo sobre o sangue misturado à água e o algodão. A sentença então está cumprida [...]” (KAFKA, 1986, pp. 48, 49). O problema posto é evidente: se a experiência da máquina-linguagem não pode ser narrada, o que estaria Agamben propondo ao fazer tal formulação? Para tentarmos indicar uma resposta para o problema traremos ao debate a figura de Genius, um duplo * Graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2012). Mestrando da Universidade Federal do Paraná. 16