Caderno de Resumo do III SIICS Caderno de Resumos do III SIICS | Page 57

Página | 57 A PSEUDOFORMAÇÃO: REGRESSÃO DA CONSCIÊNCIA DO INDIVÍDUO Prof. Dr. Leonardo José Pinho Coimbra [email protected] Profa. Dra. Ana Paula Ribeiro de Sousa [email protected] Universidade Federal do Maranhão – UFMA RESUMO: Adorno (2005) 14 afirmava que a formação cultural entrara em crise a partir da modernidade justamente porque esta mesma formação foi transformada em valor. Ele não se referia apenas à questão do valor de troca a que estão submetidas todas as coisas na sociedade do consumo, mas que o conhecimento, a partir da época das luzes, havia assumido um valor moral, e que figurava, assim, acima das próprias condições objetivas que lhe determinava a existência. A cultura ou a ideia de cultura, dizia ele, não poderia ser sacralizada, pois isto reforçaria seu caráter pseudoformativo. A cultura, o esclarecimento e o conhecimento estão sujeitos às contradições que expressam a nossa sociedade. A cultura tem um duplo caráter, tanto pode remeter para questões que ampliem os processos democráticos – e, dessa maneira, converge com os ideais de liberdade – como, de outro modo, pode reforçar as condições de heteronomia e adaptação cega ao existente. Ela é a expressão da contradição objetiva que foi se estabelecendo entre os homens, mas que ela não tem o poder de resolver de forma totalmente autônoma, pois isso seria reforçar a visão idealista de cultura e reproduziria a pseudoformação. A formação requer como condição para sua realização a autonomia e a liberdade, mas está sempre determinada por condições sociais específicas, ou seja, tem como uma de suas dimensões a adaptação às condições de existência legadas pela história. Se, atualmente, a sociedade do consumo de massa minimiza, com a pseudocultura e a integração de tudo e todos ao valor de troca, o momento de autonomia e liberdade dos processos formativos individuais, restando apenas o de identificação e integração, sobressai-se a pseudoformação, que virou a sucedânea da formação. A indústria cultural ao reproduzir tal desiderato anula as possibilidades de formação, aniquilando-a. O resultado disso não poderia ser outro: a supremacia do objeto sobre o sujeito, do sempre o mesmo, da realidade reificada que se reproduz quase sem objeção. Esse fenômeno, designado pelos teóricos da Teoria Crítica de racionalidade tecnológica, impera nas consciências individuais sem deixar espaço para o contraditório, visto como perturbador e desagregador. É deste modo que indivíduo, cultura e formação se articulam na atualidade. A realidade existente é o conteúdo dessa relação, na qual a cultura deve estar sempre submetida. A racionalidade tecnológica é também a racionalidade unidimensional, que perdeu o elemento valorativo e ético da filosofia clássica, que projetava nas ações humanas um devir oposto ao que a realidade impunha. O resultado dessa relação só pode ser, para o esclarecimento, a pseudocultura, e para o indivíduo, sua pseudoformação. Mas esse resultado é apenas parcial, pois há uma dialética na produção e socialização da cultura: a universalização dos meios e instrumentos que servem à dominação, também podem servir como crítica dessa dominação. Palavras-chave: pseudoformação, cultura, sociedade, indivíduo. 14 ADORNO, T. W. Teoria da semicultura. Primeira Versão. Porto Velho: Editora Universidade Federal de Rondônia, Ano IV, Vol. XIII, Nº 191, maio/Agosto, 2005.