Caderno de Resumo do III SIICS Caderno de Resumos do III SIICS | Page 288

Página | 288 SER HUMANO EM MEIO À ESCRAVIDÃO: MARIA FIRMINA DOS REIS E O SONHO DE LIBERDADE NO ROMANCE ÚRSULA Bruno dos Santos Nascimento [email protected] Orientadora: Profa. Dra. Régia Agostinho da Silva [email protected] Universidade Federal do Maranhão (UFMA) RESUMO: O tráfico negreiro transatlântico já era extinto no império do Brasil por lei desde 1850 com a chamada Lei Eusébio de Queirós. A existência desta lei, no entanto, de pouco valeu para frear o processo de escravização africana iniciado nos primórdios da colonização portuguesa em terras além mar. Os senhores de escravos mantinham suas lavouras a todo vapor com a mão-de-obra africana trazida de África. As representações da lei, portanto, não correspondiam às práticas econômicas dos donos de escravos. A escravidão se mantinha, mas agora sob novos aspectos, sendo um deles o tráfico interprovincial de cativos, do qual a província do Maranhão se destacava pela reserva considerável de escravizados. É nesse cenário que surge um dos romances mais singulares à época, pela ousadia literária, perspicácia crítica, pelo local de produção e, principalmente, pela mão que o escreveu. Trata-se do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis (1822-1917), publicado em 1859 na cidade de São Luís, no maranhão. Esse “romance original brasileiro”, esquecido por mais de cem anos, é considerado o primeiro a tematizar “a odiosa cadeia da escravidão” sob a pena de uma mulher e, ainda, mulher negra. Tendo em vista a gama considerável de temas recorrentes no livro, opta-se neste trabalho por destacar os dois primeiros capítulos da obra que tratam do encontro entre o escravo Túlio e o jovem abastado e branco chamado Tancredo, que viria ser o noivo da protagonista, Úrsula. Esses dois capítulos, “Duas almas generosas” e “O delírio”, nos oferece o vislumbre ou o horizonte pretendido por Maria Firmina ao escrever seu romance antiescravista: uma sociedade onde os homens não fossem distinguidos pela condição horrenda da escravidão. O encontro descrito entre Túlio e Tancredo revela um ideal humanista de Maria Firmina, permeado por uma visão cristã de igualdade e generosidade. Encarando o romance Úrsula como escrita antiescravista e não abolicionista, haja vista que a autora claramente se mostra contra a escravidão, mas, por outro lado, não sugere um fim imediato desta, omitindo, por exemplo, cenas de rebeliões ou fugas escravas, pretende-se ainda destacar as idealizações feitas por Maria Firmina sobre África como local de plena liberdade e alguns aspectos sobre as injustiças da escravidão. Por fim, infere-se que, mesmo não possuindo um caráter abolicionista, o romance Úrsula é constructo incomum para sua época, pois questiona a legitimidade da escravidão e revela a intenção da autora em mostrar que um novo mundo, mais humano é possível. A literatura aparece aqui como missão de um vir a ser no mundo, uma vez que oferece ao leitor novas possibilidades de se compreender o real e assim produzir uma nova dinâmica social. Palavras-chave: Maria Firmina dos Reis; Úrsula; Antiescravismo; Humanismo.