Caderno de Resumo do III SIICS Caderno de Resumos do III SIICS | Page 251
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IDENTIDADE E MEMÓRIA EM O LARGO
Priscila de Oliveira Silva
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Lussandra Barbosa de Carvalho
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RESUMO: O presente artigo tem como objetivo analisar a brusca chegada da modernidade e
suas implicações em uma vila portuguesa no conto O Largo do escritor português Manuel da
Fonseca. Para tanto, serão analisados os conceitos de memória e identidade e como estas se
relacionam entre si, o que nos fornecerá uma “explicação” do que ocorre entre os personagens
e nas relações sociais no conto. Logo no início, o autor já nos coloca em situação de tensão e
conflito. Havia um “antes” do comboio que se contrapõe ao “depois” do comboio. O narrador
aponta que a chegada do comboio foi o marco crucial para que “tudo” mudasse. Se após a
chegada do comboio os alvanéis e os mestre-ferreiros foram chamados de pedreiros e
transformados operários, o que eram antes? Se as mulheres só passaram a cortar os cabelos, a
pintar as unhas e saírem sozinhas após a chegada do comboio, como se comportavam antes?
Não saíam sozinhas? Não pintavam as unhas e nem cortavam os cabelos? Qual era a base
identitária para tais ações? E o que ocorreu para que mudasse? Pensando nessas perguntas e
tentando respondê-las é que o artigo se desdobrará nas discussões sobre identidade e memória.
Que todos nós temos memória não duvidamos. Mas, como ocorre o processamento de vestígios
passados, como armazenar tantos acontecimentos? Mais ainda, qual a influência da memória à
identidade? A identidade é fixa ou mutável? Para tentar responder tais questões, recorreremos
a autores como Michal Pollak, Kathryn Woodward, Tomaz Tadeu da Silva e Judith Butler. Em
primeiro lugar, veremos que a memória possui três critérios, que são acontecimentos,
personagens e lugares. Todos esses critérios podem ser vividos concretamente, ou por tabela
através de projeções e transferências. Dessa forma, é possível que um evento no qual nós não
tenhamos participado nos afete tão profundamente que o assumimos como se tivéssemos. A
memória, seja ela herdada ou não, afeta diretamente o sentimento de identidade que temos de
nós mesmos, dos outros e do mundo, pois é ela que influencia no sentimento de coerência e
continuidade. Ainda, a construção da identidade é inseparável da relação de poder que provoca.
A afirmação da identidade necessariamente exclui outra, e essa exclusão, como vimos, nunca é
inocente, mas possui privilégios ao definir o que pode ou não ter valor. As personagens
enlouqueceram devido a uma virada hierárquica, isto é, à perda de privilégios.
Palavras-chave: Memória; Identidade; Relações sociais; Relação de poder.