Esse tempo acelerado é captado em frames na obra de Francisca Sousa, Da pintura à Ação “como se de stills de um filme se tratassem(…) A pintura tenta, assim, relacionar-se com as novas formas de arte, com o corpo do artista em movimento e com a afirmação do efémero.”
Efémero que permite alienar, manipular. Na escultura de Ana Rita Canhão, Os Homens Ocos é de um tempo de alienação que se trata. Os homens são cabeças vazias prontas a receber as ideias de um líder, tornando-se um veículo de transmissão interminável e acrítico. O áudio Não Ouviste? reforça este conceito através de excertos de discursos de propaganda de várias ditaduras, que no seu tempo se tornaram virais.
Esta manipulação também pode ser feita através de imagens, pretensamente com o aval da ciência. Para CE-1, Anne Braun encenou aparições de OVNIS e fotografou-as, misturando textos inventados por si e informações científicas, questionando assim o papel da fotografia enquanto prova irrefutável.
Nunca o homem foi confrontado com tanta informação, cabendo-lhe distinguir o verdadeiro do falso, tarefa cada vez mais difícil na voragem deste nosso tempo.
Tão rápido que apetece pará-lo, como faz Steph Huang, com os seus velhos jeans em The black Trousers. Ela aprisiona-as num cubo quando ficam gastas e não se podem usar. Mas nessas calças fica a marca da vida vivida e o cubo representa, assim, a 4ª dimensão – o tempo.
O tempo e a sua inevitável finitude levam-nos a Desfecho, de Olga Naamá. O gato morto é aprisionado num molde do qual se faz uma escultura de gesso, como uma máscara funerária, “uma natureza morta literal (...) A relação do sujeito com a ideia de finitude”.
Mas o tempo não finda, apenas é interrompido.
Rodrigo Rosa apresenta Untitled (Interrupted sequence), uma instalação minimalista composta de uma sequência interrompida de três estruturas, “três janelas para uma infinidade de pensamentos.”
O tempo não finda; repete-se num ciclo sem fim.
É o contínuo fluxo das ondas que Joana Patrão capta no seu projeto Impressões Marítimas. A ação das ondas nos vários suportes mergulhados no mar guarda instantes desse movimento contínuo, do eterno devir.