Vendo Estrelas
Por Eder Ghiraldi
Boletim Astronomico KAPPA CRUCIS No. 1 Primavera 2017
O vislumbre sobre a visualização dos astros nos captura a mente ainda na infância. Sejam pelas inúmeras séries da TV ou pela enorme gama de filmes disponíveis sobre o tema. Ficção ou documentários instigam em conhecer por meios secundários como revistas ou enciclopédias, mas o sonho de ser astronauta impera. Nosso primeiro contato são sempre as imagens belíssimas e bastante editadas do nosso telescópio em órbita, Hubble. São essas mesmas que nos decepcionam nas primeiras visualizações reais. Minha história com a astronomia se limitava a isso, imagens do Hubble e a TV. Até que o ímpeto de obter minha própria versão da verdade nas visualizações prevaleceram e então adquiri um kit de espelhos para a confecção do meu primeiro telescópio. O custo convidativo destes kits de diâmetros intermediários me confortaram quanto ao risco da fabricação das partes no quintal. Bem como alinhamentos milimétricos dos quais ainda desconhecera. Realmente o nível de complexidade é médio, não iludiria quem queira assumir a mesma empreitada, embora não seja uma tarefa impossível mostrandose apenas interesse e vontade de aprender durante o processo. Toda a fabricação e montagem do telescópio tipo newtoniano dobsoniano, simplificado pelo ilustre John Dobson, pode ser realizada no quintal com materiais de baixo custo e de fácil obtenção. Pois bem, depois dos alinhamentos iniciais e checagem dos movimentos, chega a grande noite do primeiro teste. Racionalmente procuro um objeto celeste com grande brilho para ajuste focal, então a lua foi a minha primeira paixão celeste. Para minha grande surpresa, durante estes primeiros alinhamentos, passei por um objeto muito brilhante que fez meus olhos brilharem pela segunda vez, Júpiter e suas quatro luas visíveis. Dias depois, despretensiosamente, procurando alguns aglomerados globulares, passei pelo planeta mais lindo visível por telescópios terrestres, Saturno! Muito embora já tendo visualizado magníficos aglomerados, algumas nebulosas, como a de Orion, as fases da lua e suas crateras, Saturno me instigava a melhorar a qualidade ótica do meu equipamento. A saga sem fim, começara. Nessas aquisições houveram conversas e surgiram algumas amizades que me levaram ao grupo de discussões“ Aglomerado Aberto”. Isso me colocou em contato com muitas pessoas de interesse mútuo, a visualização de objetos celestes com soluções de baixo custo. Seguindo os conceitos do saudoso John Dobson. O conteúdo necessário, aprendemos. A técnica, discutimos. Projetos novos, acumulamse. Mas a vontade em aprender algo novo é essencial, para a astronomia e para a vida! Hoje estou vendo estrelas e com brilho nos olhos! Mas não as vendo, não existe soma que pague seu valor.
No mês de maio foi realizada mais uma OBA, Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica no Brasil. Nesse ano a OBA completou 20 anos! Considero um marco importante esses vinte anos. Algo para se comemorar e ter orgulho. Sou professor representante ou coordenador da OBA nas escolas em que leciono nas redes públicas municipal e estadual quase desde o início da existência da OBA. E o fato é que o evento e tudo o que o envolve, desde sua divulgação, preparação e atuação nas aulas e atividades práticas sobre Astronomia com os alunos até a aplicação da prova, todo o processo representa uma grande oportunidade para simplesmente falarmos de ciência para os nossos jovens. A OBA os instiga, permite correlacionar as ciências de base desde a Física e Matemática até a História e a Geografia, passando pela Química, Biologia e Filosofia. Perceber a ciência como uma coisa só, uma forma de construir o conhecimento, dividida em áreas de conhecimento ou de objetos e atuações diferentes é um grande desafio num país dominado por discursos religiosos retrógrados e arrogantes. Mais. A OBA é um instrumento de formação política desse jovem. Jovem de um país, cujo governo corrupto e elitista, tem total descaso com a escola pública, que mesmo precariamente tem conseguido existir e formar alunos a partir da dedicação incomensurável de seus professores, meus pares, meus colegas de trabalho, e que diariamente me inspiram a tentar ser como eles, minimamente um bom professor. Há anos o Brasil enfrenta uma séria crise econômica, que segundo o governo federal não afetaria o país. A questão é à qual“ Brasil” o governo estava se referindo! Certamente ao da elite do país, da alta burguesia não afetou mesmo.
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Star Trek
A Escola Pública e a 20 ª OBA!
Por Vitório Zago