BOLETIM BIO ANIMAL Boletim Bio Animal #3. Vol. 1 - 2017 | Page 6

Vol. 1- Ano 2017
B O L E T I M B I O A N I M A L O JORNAL DE NOTÍCIAS DO PPGBA www. bioanimalibilce. com

¡ Mamá! Me gané una beca!

Ou sobre a relação entre a altura do pulo e a possibilidade de ganhar uma bolsa de estudo
Por Camilo Andrés Roa-Fuentes
Lembro-me relativamente bem, era 26 de dezembro de 2008 quando recebi o seguinte e- mail:“ Prezado Candidato, você foi selecionado pelo Governo do Brasil para realizar estudos de pós-graduação na UNESP, campus de São José do Rio Preto”. Era um fato incrível. Para o leitor, pode parecer até um pouco clichê, mas para mim era o sonho que se tornava realidade: cursar pósgraduação no Brasil. Minhas primeiras reações foram fechar e abrir o e-mail cerca de 1010 vezes para ter a certeza de que a mensagem não desaparecia e dar um pulo de uns 2.8 m de altura com os braços esticados para cima. Logo depois liguei para minha mãe:
“¡ Mamá! Me gané una beca para estudiar en el Brasil!”.
Mas por que esse pulo tão alto, essa ligação emotiva e qual sua relação com a chance de se ganhar uma bolsa de estudos? Bom, acredito que seja porque na Colômbia, assim como em boa parte dos países da América Latina, a possibilidade de ser remunerado enquanto se estuda / pesquisa é remota. Além disso, para ingressar na pós-graduação você precisa pagar.
Almeja fazer mestrado / doutorado em biologia em uma Instituição Pública colombiana?
Por favor, deposite COP $ 5’ 515.440( ≈ R $ 5.901,52) por semestre ou COP $ 44’ 123.520( ≈ R $ 47.212,17 + incremento anual) se quiser terminar mesmo e não está arrependido de ter pedido aquele empréstimo ao Banco( UNAL, 2016).
Quando cheguei ao Brasil em 2009 para dar início ao meu mestrado, percebi que o pulo do pós-graduando“ nativo” não chegava aos 30- 40 cm de altura quando recebia a notícia de que tinha ganhado bolsa. Para mim era difícil acreditar nesse comportamento dos“ nativos”:“ Cara, você acabou de ganhar uma bolsa! Pula ai!”. Logo entendi que eram realidades distintas. Ganhar uma bolsa de estudo no Brasil era relativamente fácil. De fato, isso já era percebido por um banco da Colômbia que inspirado( imagino eu) na situação próspera do Brasil divulgava o seu programa de crédito para estudo no exterior através da simulação de uma conversa entre uma agência de fomento brasileira e o estudante colombiano que tinha acabado de ganhar uma bolsa. Talvez, isso tenha sido um exagero. Mas o mundo muda e infelizmente parece que para pior. Desde 2012-2013 comecei a notar que ano após ano o pulo do pós-graduando brasileiro era cada vez mais semelhante ao nosso, estudantes / pesquisadores latinoamericanos: 1.5 m de altura se a bolsa fosse CAPES ou CNPq e perto dos 2 m se fosse FAPESP. Ainda não chegam aos 2.8 m de altura nem esticam os braços, mas acredito que estão caminhando para lá.
O objetivo do texto não é ilustrar a“ dura” realidade dos países vizinhos, mas sugerir que o estudante brasileiro era e ainda é comparativamente afortunado. Entretanto, deve manter os olhos bem abertos às mudanças drásticas do sistema de pósgraduação para que não lhes passe o que aconteceu conosco, onde a educação virou mercado e pagar seis mil reais por semestre é a norma. Enquanto os governantes brasileiros definitivamente querem copiar o modelo da maioria dos países latino-americanos( i. e., alguns projetos que tramitam no parlamento brasileiro pregam a cobrança de mensalidades nos cursos de pós-graduação das universidades públicas), a educação superior de países como a Colômbia talvez devesse seguir ou adaptar um modelo semelhante ao brasileiro: oferecer p. 6