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A DECEPÇÃO
Logo que chegou às ruas, Tião teve que enfrentar todas as
adversidades. Brigou por comida, brigou por abrigo, e brigou
pela vida. Renitente foi sua batalha para manter-se entre os
sobreviventes daquela selva humana. Desprovido de tudo e de
todos, sem “eira nem beira’’, ele amargou da vida todas as
intempéries, enfrentando a chuva, o sol e o frio, vagou confuso
por entre a desventura e o fracasso. Tirando seu sustento como
biscateiro, incerto era seu ganho. O tempo e as agruras lhe
fizeram indigno do convívio com a sociedade. Sua aparência, a
cada dia, se transformava mais, com roupas já puídas e
amarrotadas, apresentando sujeira e desleixo, espantava, para
longe, os que dantes lhe estendiam a mão. Seu estado físico
tornou-se deplorável, até seus pares o tinha inaceitável, eram
eles seus parceiros de infortúnio, com quem dividia as marquises
e o relento. Sua ruína estava decretada, toda aquela garra que
trouxera lá do sertão nordestino, ruíra. Aquela vida futura cheia
de conquistas, de fartura e de alegrias rolará ladeira abaixo,
afastaram-se rapidamente de seus sonhos. O que mais lhe
entristecia, era ver em seu redor as oportunidades que procurava
sem poder alcançá-las. Olhando em volta, se via mergulhado
num profundo poço, as razões que o trouxeram para aquela terra,
as boas lembranças feneceram em seu nascedouro e em sua
consciência. Sua alma cada vez mais se embrenhava nos
labirintos do desespero. Um dia, já bem distante de sua chegada
àquela cidade, ele parou na sua realidade e sentiu
verdadeiramente o lugar que chegara. Começou aí a entender sua
real condição de vida, seu verdadeiro fracasso. Todas as suas
referências haviam desaparecido, viu-se à mercê da sorte que o
mundo o lançara. Sentiu naquela hora a morte de seus puros
desejos e viu que, na rua, estava sua morada, sua família, seus
sonhos, seus planos, sua herança e seus pertences. Pois até sua
vida não achava mais tê-la, já que a mesma não mais lhe
pertencia, andava fora de seu controle, seu padecer se perpetuava