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EM BUSCA DE UM SONHO
São poucas ou nenhuma, as chances do sertanejo do nordeste
laboral da terra amealhar algum tostão, galgar sucesso material
em sua labuta. O clima abrasador dessa região deixa estéril e
sem vida suas pobres plagas, semeando a fome e a miséria a seus
filhos, impondo-lhes o estigma do flagelo e da mendicância.
Mas não é rastro da severidade que tira deles, a força e seus
brios, nem tão pouco lhes rouba a dignidade. Pois suas
pertinências humanas afloram com mais rigor, e aguçam seus
desejos de vencer suas batalhas, por seus próprios méritos. É
esse ímpeto moral que os impulsiona na busca incessante por
melhoras na vida. E uma verdadeira façanha, pois a dureza
imposta por essas terras não tem medida, a escassez d’água
assola cada palma dessa terra. O sol, que banha esse solo,
maltrata a todos sem dó. Em suas caatingas, desfiam o calor do
desengano, tornando invencíveis seus penetrantes raios. Na
imensidão do nada, desfilam levas de pessoas expulsas de suas
próprias casas, levadas pelo desespero e a incerteza do agora,
pois seu amanhã nem pode ser vislumbrado. O pobre nordestino
já escabreado por essa tenebrosa condição vê-se obrigado a fugir
para outras paragens, alheios aos acontecimentos que os
esperam. O terror e o desespero caminham juntos com essa
gente, roubando-lhes toda certeza de sobrevivência. Mesmo
assoberbados de desventuras naturais, são ousados na defesa de
princípios. Se não bastasse tudo isso, tem à ainda sua dignidade
proscrita e devastada por maus políticos, que se aproveitando de
sua ingenuidade, e impingem-lhes degradantes ajudas em forma
de esmolas, ferindo fundo e sensível à dignidade de cada um.
Por menos disso, muitos tidos como normais, desistiriam até
mesmo de viver, mas essa gente, nascida na têmpera dos seres de
bem, com a alma revestida de sonhos, jamais se entregará à
derrota. Sua luta é uma constante batalha, numa guerra contra a
natureza.