BIBLION - REVISTA DE LIVROS , LIVROS EM REVISTA
J . I . PACKER sobre SCHAEFFER :
“ Tenho a certeza de que não estarei errado ao saudar Francis Schaeffer (...) como um dos verdadeiros grandes cristãos do meu tempo .”
BIO
FRANCIS SCHAEFFER
( 1912-1984 ) mentoria uma vez por semana , entre outras coisas , tentava esclarecer a questão colocada para que todos tivéssemos no mesmo barco e a discussão fosse dessa forma mais intencional . Esta foi uma das coisas que mais gostei enquanto estive lá : poder conversar sobre tudo com as pessoas e aprender com cada uma delas . Conversei sobre os filmes do Malick , sobre as políticas de gun control nos EUA , sobre música , cultura , arte , catolicismo , poesia , guerra , e muitos outros temas . Conversava a arrancar ervas daninhas , a preparar as refeições , a limpar casas de banho ou no intervalo do chá . Havia sempre alguém disposto a ouvir e a pensar seriamente sobre os assuntos , com profundidade . Isto ajudou-me a refletir sobre a minha própria fé , ao conhecer pessoas que passam exactamente pelo mesmo que eu e que também procuram respostas para problemas idênticos aos meus , principalmente no que toca a ligar os estudos à nossa fé , a ter uma mente renovada dia após dia .
A vida em comunidade ensina-nos que não somos , de todo , a coisa mais importante da nossa vida , não devemos pôr a confiança nas nossas capacidades nem atentar em primeiro lugar para as nossas necessidades . Fazer a ponte entre uma comunidade inteiramente dependente de Deus , algures num campo no sul de Inglaterra , e a confusão da nossa vida diária , é que é um desafio , mas um bom desafio , pois procura a glória de Deus acima de todas as outras coisas .
Quando me comecei a aperceber de como as coisas funcionavam , descrevi aquela comunidade em duas sentenças : isto é uma casa de ricos gerida por gente pobre , e aqui , apesar de tudo funcionar sob o controlo de duas mil regras , ninguém parece apercebe-se disso e tudo corre , literalmente , na paz do Senhor . O pequeno almoço era às 8:30 , não era às 8:35 , mas nunca havia problema pois todos queriam estar lá a horas . A vida era agitada , mas a inexistência de ansiedade nas pessoas permitia ter momentos significativos ao longo do dia , seja no salão principal a ouvir alguém cantar ao piano , seja no intervalo do chá a jogar à bola . Limpei mais casas de banho e lavei mais loiça do que nos seis meses anteriores , mas nada me custou . E tudo isto se passava numa mansão do estilo arts and crafts , o que para um estudante de arquitetura é uma experiência única .
Durante a parte do dia dedicada ao estudo eu aproveitei para responder a uma lista de perguntas que levei para colocar a mim mesmo e , antes de ir , tinha a intenção de não estudar mais nada durante aquela semana para não me distrair do meu foco . Aproveitei para pensar , escrever , refletir e orar , para que pudesse tirar o máximo proveito do meu tempo devocional e da calma de espírito que o campo inevitavelmente oferece . Bem , acabei por ler algumas coisas e ouvir duas ou três das palestras guardadas de anos e anos de encontros semanais , mas que me ajudaram muito no que eu me propus fazer naqueles dez dias . Depois do jantar ou tínhamos uma palestra dada por um convidado , ou passávamos o serão juntos a jogar , a ouvir um podcast , a ver um filme ( que , à semelhança de quase tudo o que se faz naquela casa , era acompanhado de uma discussão no final ), ou simplesmente na conversa ou a ver os jogos de portugal no pub . Isto foi o que mais apreciei : conversar sobe quase tudo , perceber as idiossincrasias das pessoas , os seus testemunhos , os seus gostos e hábitos . Ouvir a forma como cada um vê as coisas de forma diferente e perceber a sua atitude em relação ao mundo . Aprender com pessoas realmente sábias , mas completamente humildes . Não pretendo falar de casos específicos pois seria muito mais proveitosos explicar tudo pessoalmente a quem quer saber mais sobre o que é a L ’ Abri ; apenas quero dar a mostrar esta bonita comunidade e o enorme impacto que estas pessoas tiveram na minha caminhada com Cristo , para que possa , assim , entusiasmar mais pessoas a aprofundarem o seu chamado .”
Francis August Schaeffer nasceu a 30 de Janeiro de 1912 , na Pennsylvania , filho de Franz A . Schaeffer III e Bessie Williamson . Em 1935 graduou-se magna cum laude na universidade americana Hampden-Sydney . No mesmo ano casa com Edith Seville , que conheceu durante o curso , e que era filha de missionários que estiveram na China na missão fundada por Hudson Taylor . Nesse outono , ele começa a estudar no Seminário de Westminster onde tem Cornelius Val Til como professor e que vai influenciar a abordagem presuposicionalista à apologética que Schaeffer acaba por defender toda a vida , apesar de nunca se tornar tão radical como o seu professor . Por causa de divisões internas o seminário separa-se em duas escolas e em 1937 ele é transferido para o Faith Theological Seminar . Começam a perceber-se nesta altura algumas das características peculiares que moldam o pensamento original de Francis Schaeffer , onde estão juntos o fundamentalismo inicial dos estudos universitários , a crescente preocupação com o vazio da cultura secular do século XX e um enorme amor , tanto pelos estudantes universitários , como pelo cidadão comum , cada vez mais anónimo e desprezado pela sociedade . As preocupações de Schaeffer começam a ir neste sentido e ele começa a escrever muito sobre a relação entre fé e cultura ou fé e filosofia , na tentativa de dar resposta aos problemas contemporâneos que os jovens enfrentavam . Por outras palavras : Schaeffer dava aulas sobre o realizador Ingmar Bergman quando os evangélicos nem sequer viam cinema . Dada a enorme preocupação que tinham pela santidade da vida humana e a importância que sabiam ter de Jesus permear todas as áreas da nossa vida , junto com o trabalho que faziam com estudantes , tudo isso veio a culminar na L ’ Abri , o trabalho missionário que o casal Schaeffer fundou em 1955 , na Suíça . Deram-lhe o nome de L ’ Abri pois era isso mesmo que significava : um abrigo onde as pessoas pudessem passar algum tempo , afastados do mundo , mas de olhos postos nele , a preparar o coração e a mente . Em parte isto só foi possível dado a crise espiritual pela qual Francis passou anos antes e que o levou a questionar a realidade do cristianismo . Durante a crise ele questionou se as suas crenças eram reais , se ele acreditava realmente no que dizia crer ou se acreditava de emprestado . Isto levou-o a perceber melhor o que significava verdadeira espiritualidade e a voltar ao primeiro amor que sentiu aquando da sua conversão . Nos últimos anos , o casal vai aos Estados Unidos e ele começa a ter uma grande influência no meio evangélico norte americano . Muitos dos temas que ele trazia eram exóticos para a grande parte dos evangélicos , dado viverem muito fechados à cultura secular . Muita coisa fica por explicar , mas o que importa perceber é a importância que as respostas de Francis Schaeffer tiveram para o pensamento cristão do século XX , e a urgência que ainda preservam até hoje . www . biblion . pt 19