BIBLION MAGAZINE EDIÇÃO DIGITAL #2 / Outono 2016 | Page 18

FIGURA
O LEGADO DE FRANCIS & EDITH SCHAEFFER

Abri

L ’

TEXTO E DESENHOS POR JOÃO TERESO , EM INGLATERRA

Conheci muito pouco de Inglaterra ; no comboio fui observando os pequenos prédios em tijolo que iam aparecendo atrás da fronteira de árvores que separava a linha de comboio das cidades rurais , à saída de Gatwick . Cheguei num dia histórico , pois foi nessa manhã , durante o voo , que a Inglaterra soube que iria sair da União Europeia , um dia que o piloto do avião apelidou como estranho , antes de comunicar a aterragem . Ainda que a viagem tenha sido curta , deu para apreciar as idiossincrasias dos britânicos , o seu humor característico , e observar o design pitoresco das estações com toda a sua sinalética a mostrar as cores da bandeira .
o objetivo da minha viagem era apenas conhecer melhor a comunidade L ’ Abri da Inglaterra , fundada 50 anos antes por Francis Schaeffer , e sobre a qual eu sabia muito pouco na altura mas que tinha muita curiosidade em conhecer de perto .
A L ’ Abri ( francês para “ o abrigo ”), foi fundada com o intuito de receber “ students ” de todos os lugares que queiram colocar questões sobre a vida , sobre Deus e sobre eles próprios , sejam cristãos ou de outra religião . Existe a ideia de que está intimamente ligada a questões intelectuais , mas isso não é verdade ; apesar de estar equipada com uma excelente biblioteca e com milhares de palestras em áudio , o objetivo principal passa antes por receber as pessoas no seio da própria comunidade , para que todos percebam que a verdade do Cristianismo tem uma influência transformadora na nossa vida quotidiana . Se precisasse de resumir a minha estadia em L ’ abri , resumiria-a à palavra surpresa , que é , na minha opinião , uma das principais bênçãos da vida cristã , o espanto contínuo com a forma como Deus cuida de todas as coisas , em todo o tempo , e que tão bem se fazia sentir na forma como a vida na L ’ Abri é orientada .
Lidar com as diferenças culturais veio a revelar-se algo difícil no início . Estive lá ao mesmo tempo que 30 e poucos outros “ students ” ( que não são obrigatoriamente estudantes universitários , apenas se chama students aos convidados de fora ), vindos de todo o mundo , alguns para ficar até ao final do “ term ”, outros por um mês , outros por apenas alguns dias . Assim que cheguei , foi-me associado um tutor , o Peter , com quem me dei muito bem dado a disponibilidade enorme de coração dele e o seu interesse genuíno em conhecer os outros . Comecei a conhecer as pessoas à medida que se apresentavam a mim e me explicavam como funcionava a vida na L ’ Abri , como eram orientados os dias , de onde vinham e o que pretendiam estudar enquanto ali estivessem . Uma das students descreveu bem a situação de quase todos , dizendo que se um jovem estava lá era porque estava numa fase de transição pessoal e procurava algum tipo de resposta para o que ia fazer a seguir . Antes de ir eu imaginava tudo muito mais snob , com a biblioteca cheia de estudantes de seminários alemães a ler Karl Barth e a discutir a trindade às refeições . Mas as preocupações da minha geração já não são as mesmas do tempo do Francis Schaeffer e tendem a ser mais relacionais e acerca do indivíduo .
O dia era dividido em duas partes , uma para trabalho prático na propriedade e outra para estudo individual . Ajudávamos a preparar as refeições , a limpar a Manor House ( mansão central onde estão alojados os students e onde são as refeições em conjunto ), a tratar do que fosse preciso tratar na propriedade . Tudo era feito com a ajuda de um ou dois “ helpers ”, pessoas que normalmente já tinham sido students e tinham ficado para ajudar nas tarefas práticas durante um ou dois term ( sensivelmente três meses ). E foi sempre neste ambiente de entre-ajuda que as atividades eram levadas a cabo , para que nenhuma característica da vida em comunidade fosse ocultada e ficássemos como uma ideia errada do que implica viver em conjunto com outras pessoas , em comunidade .
O almoço é inteiramente dedicado a responder a uma pergunta colocada por um student , logo no início da refeição . Depois da pessoa colocar a questão , o “ worker ”, uma das as pessoas que trabalham a tempo inteiro na comunidade e que recebem as pessoas nas suas casas , espalhadas pela propriedade , para além de darem
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