Apesar de parecer um sonho impossível, estamos cada vez mais perto de o realizar!
Em 2003, uma equipa de cientistas conseguiu trazer uma subespécie de cabra-montês (Capra pyrenaica pyrenaica), de volta da extinção, ocorrida três anos antes, em 2000, durante, aproximadamente, sete minutos. Isto foi possível devido à recolha prévia do ADN da última fêmea, chamada Célia, capturada nos Pirenéus, o seu habitat natural, em 1999.
Depois de recolherem o ADN de Célia, os cientistas injetaram o seu material genético em óvulos de cabras domésticas, cujos núcleos tinham sido previamente removidos. Os embriões foram implantados em cabras híbridas (resultado do cruzamento entre cabras domésticas e cabras-montês ibéricas). De 57 óvulos implantados, sete resultaram em gestações, mas apenas uma chegou ao termo. O clone nasceu, mas morreu pouco depois devido a um problema pulmonar. Apesar deste insucesso, o feito marcou o primeiro caso de “desextinção” registado, no qual uma subespécie extinta foi temporariamente “ressuscitada”.
Mas então porque não trazemos os animais extintos de volta?
As principais críticas à reversão da extinção de espécies prendem-se com as potenciais consequências ecológicas, dado os impactos desconhecidos que a introdução destas espécies poderia trazer. No entanto, muitos defendem que reverter a extinção de alguns seres vivos pode trazer vantagens. Por exemplo, fazê-lo relativamente aos mamutes poderia ajudar a salvar os elefantes e até melhorar os ecossistemas das tundras.
E os animais extintos há milhares de anos?
Peguemos no caso do mamute-lanoso (Mammuthus primigenius) e aprofundemo-lo.
O parente vivo mais próximo do mamute é o elefante asiático, que partilha muitas semelhanças genéticas devido à convivência das duas espécies no mesmo continente. O mamute era um herbívoro adaptado ao frio extremo, com orelhas pequenas, camadas densas de pelo e depósitos de gordura no dorso que o ajudavam a conservar energia e calor durante os meses mais rigorosos. Estas características permitiam-lhe sobreviver em climas extremamente gelados, como os da Sibéria e do Alasca.
Como poderíamos recolher ADN de mamutes extintos há tanto tempo?
Embora os mamutes estejam extintos há milhares de anos, animais preservados no permafrost (solo que se mantém sempre congelado, nas regiões polares da Terra) da Sibéria permitiram a extração de ADN relativamente bem conservado. Alguns restos encontrados continham até alimentos não digeridos nos estômagos, mantidos intactos desde o momento da morte.
O próximo passo seria inserir estes genes no genoma do elefante asiático, utilizando uma tecnologia de edição genética como o CRISPR-Cas9. Com esta ferramenta, os cientistas poderiam editar o genoma do elefante, substituindo partes do ADN pelos genes do mamute. O embrião híbrido resultante seria implantado no útero de uma fêmea de elefante asiático ou africano saudável, permitindo o nascimento de uma espécie geneticamente próxima do mamute-lanoso.
Desafios e possibilidades
O primeiro genoma de mamute completo foi sequenciado em 2015, depois de uma primeira sequência parcial em 2008. No entanto, algumas regiões do ADN, como cadeias repetitivas, ainda representam grandes desafios. Além disso, criar populações viáveis de espécies extintas requer diversidade genética, o que é difícil de alcançar com amostras limitadas de ADN.
Por agora, a empresa de biotecnologia Colossal Biosciences, sediada no Texas, lidera um projeto para trazer de volta três espécies icónicas: o dodó (Raphus cucullatus), o tigre-da-Tasmânia (Thylacius cynocephalus) e o já referido mamute-lanoso. A empresa planeia produzir os primeiros mamutes híbridos até 2028.
E SE TROUXERMOS DE VOLTA OS ANIMAIS EXTINTOS?
Maria Vieira