Atualidade Cosmética 167 Atualidade Cosmética 167 | Page 28

mercado perfumaria não são fragrâncias tão comerciais, mas estavam muito dentro do conceito que a gente queria. A inteligência artificial permite am- pliar o uso da paleta, além de tornar o processo mais rápido. Você acha que sistemas como esse podem ajudar a resgatar um pouco da capacidade de pensar mais fora da caixa, que talvez na correria de hoje, com um grande volume de projetos e a necessidade de sempre “vencer” projetos, as casas tal- vez tenham perdido? Eu acho que a gente consegue ampliar as possibilidades que hoje podem ficar limitadas, às vezes até por experiências e gostos pessoais, seja do perfumis- ta, seja do avaliador ou até do cliente. Quando você consegue ligar o que o consumidor está falando numa mídia social, que perfume ele experimentou e gostou – excluindo a questão da marca que ainda exerce uma influência muito grande nesse mundo, de mídia e etc. – com a capacidade de ampliar o uso da paleta na criação, eu acho que esse é o ganho da inovação. Os perfumistas têm a sua linha de ingredientes, de acordes e famílias olfativas com as quais eles mais gostam de trabalhar... Eles têm estilos? Eles têm estilos. Temos muito bem ma- peado qual é o gosto de cada um e do que a gente precisa para cada um, como motivamos e exploramos os pontos for- tes de cada perfumista. Isso é parte do nosso trabalho dentro do NIO – Nucleo de Inteligencia Olfativa que criei a cerca de cinco anos. Vocês já direcionam os perfumistas quando fazem os briefings? Dependo do projeto, pois não é uma de- cisão totalmente nossa. Dentro das casas existe toda uma sistemática de utilização dos perfumistas além da própria ques- tão da disponibilidade deles também. Mas, às vezes, fazemos projetos exclu- sivos com determinados perfumistas, porque queremos explorar o know how dele ou até a imagem daquele criador, por ele ser reconhecido por fazer um flo- ral muito bom, uma madeira inovadora ou um acorde frutado que é o único. O DUO EGEO ON: a marca correu para ser a primeira a lançar um perfume desenvolvido com a tecnologia de inteligência artificial. Nesse processo de criação, como vocês se equilibram entre inovação e risco? Sempre buscamos a inovação, mas isso depende muito de cada marca. Tenho marcas que não podemos seguir uma linha de inovação muito disruptiva, porque isso não conversa com o coração dela efetivamente. Nós temos sempre uma escala de inovação, que aponta desde coisas que estão muito próximas ao coração de cada marca até as coisas que são mais distantes. É uma discussão de régua e calibração e não é uma régua linear, é uma régua 360º, que lhe permi- te ir para qualquer lugar. Você pode pu- xar mais madeira, ou puxar mais para o verde, ou reforçar o aspecto floral... Não é algo linear e justamente isso é a Beleza da Perfumaria. Como você acredita que a inteligên- cia artificial pode impactar o futuro da perfumaria? Eu acredito muito em novas tecnolo- gias, como a inteligência artificial. Esta- mos muito próximos das casas, acompa- nhando o que esses têm desenvolvido. Fizemos uma viagem, recentemente, para conhecer o Carto (o sistema de inte- ligência artificial da Givaudan), ficamos surpresos com a ferramenta, criamos AtuAlidAde COSMÉtiCA 26 # 167 | jun/jul 2019 uma fragrância rapidamente durante a visita. Mas, cada um desses sistemas, consegue trabalhar numa parte, num aspecto do processo. Você não tem no mercado hoje um sistema que faça tudo, que integre todos os aspectos da criação. E por quê? Porque na perfumaria você também tem sentimento e experiências. Criações que lá atrás funcionavam e agora não funciona mais e coisas que testadas lá atrás não funcionaram e que, hoje em dia, talvez funcionem. Você nunca vai substituir o ser humano. Pode criar um sistema super tecnológico, que consiga ser assertivo, rápido, mas ele não tem essa experiência, ele não tem esse feeling que o ser humano tem de falar “essa fragrância tem algumas ca- racterísticas que a gente procura numa fragrância”. São algumas características que valorizamos e que ao sentiremos determinada fragrância, podemos dizer: “essa fragrância tem isso”, e são justa- mente esses atributos que fazem com que essas fragrâncias sejam um sucesso. Você pode destacar alguns desses atributos que vocês buscam sempre numa criação? A gente se preocupa muito com dura- ção, então nossas fragrâncias de manei- ra geral, e a gente estuda muito isso, e é mais reconhecida no nosso mercado,