As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 40

obter melhores serviços públicos, mais direitos, mais transparência governamental, menos corrupção e gastos públicos mais criteriosos. O endividamento comprometeu o sonho de consumo de muitos, contrastando os bilhões de reais gastos com a Copa e as Olimpíadas. Foi-se formando assim uma plataforma de exigências, expectativas e reivindicações, que não conseguiu ser administrada pelos governos, pelo Estado, pelo sistema político ou pelas organizações da sociedade civil. Faltaram articuladores: os partidos políticos foram ultrapassados pela nova sociedade que emergiu. Ela simplesmente os abandonou, denunciando seu burocratismo, sua letargia e sua entrega ao Estado. As políticas governamentais progressistas geraram, assim, um país melhor, mas também mais complexo e exigente. Com as mudanças na economia internacional a partir de 2009-2010, a posição brasileira se modificou. Um ciclo começou a se esgotar. A redução do crescimento da China (grande compradora de commodities brasileiras) e o fim do período de juros internacionais baixos, com a consequente valorização do dólar, irão se combinar de maneira perversa com as limitações do mercado interno brasileiro. A economia passou a crescer em ritmo baixo demais, o que dificultou o aumento da arrecadação fiscal e limitou a ação empreendedora do governo, tanto no que diz respeito às pol