As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 33

E m junho de 2013, quando tudo parecia caminhar suavemente no Brasil e todos começavam a se preparar para as grandes eleições políticas de 2014, uma sucessão de manifestações levou às ruas das principais cidades do país milhões de pessoas, jovens na maioria, em um protesto maciço contra as graves deficiências do sistema de prestação de serviços públicos. Dada a sensação de “paz social” que havia no ar e a força política do Partido dos Trabalhadores-PT, que ocupa a Presidência da República há mais de 10 anos, as manifestações surpreenderam. O estopim foi o combate ao aumento dos bilhetes de metrô e ônibus urbano na cidade de São Paulo e em outras capitais. Impulsionados pelas redes sociais, os protestos logo se estenderam, diversificaram sua agenda e passaram a incluir reivindicações por melhores escolas, saúde pública de qualidade, maior eficácia governamental e menos corrupção na política. Uma desastrada e selvagem ação policial de repressão ao movimento dramatizou o quadro, gerou grande solidariedade e levou ainda mais gente às ruas. A própria mídia histórica (os grandes jornais e emissoras de rádio e TV), que inicialmente condenara os protestos ou dera pouca importância a eles, mudou de posição e passou a dialogar com os manifestantes. 31