As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 171
da renovação. Como convencer o eleitor de que algo “novo”
desponta quando o “velho” aparece com ele abraçado quase ao
ponto de sufocar?
A democracia também perdeu, pois o pragmatismo político
usurpou o lugar que nela devem ter o realismo, a coerência, os
valores e os ideais, aumentando ainda mais o fosso que distancia as pessoas da política institucionalizada. Consolidou-se um
modo de fazer campanha eleitoral. Nele, os políticos se abraçam, fazem festa, tramam e decidem. Num segundo momento,
os eleitores votam. Ou nem isso.
A República em xeque
Em março de 2009, os presidentes do Supremo Tribunal Federal, da Câmara dos Deputados e do Senado, ao lado do presidente Luís Inácio Lula da Silva, assinaram solenemente o II
Pacto Republicano de Estado por um Sistema de Justiça Mais
Acessível, Ágil e Efetivo, comprometendo-se a empreender esforços para conseguir a aprovação de projetos sobre acesso universal à Justiça, agilidade na prestação jurisdicional e proteção
aos direitos humanos fundamentais.
Curiosamente, o assunto não despertou emoção, nem entrou na pauta política.
Um pacto é tanto uma suspensão de litígios quanto um
compromisso de defesa, algo que duas ou mais partes que não
pensam obrigatoriamente do mesmo modo nem têm os mesmos
interesses particulares propõem-se a fazer em nome de uma
meta comum, valiosa para todos e que se encontra ameaçada.
Também exige cooperação e implica uma resolução de se manter fiel a uma causa, um princípio ou uma instituição.
Se se propõe um pacto republicano é porque se supõe que a
República esteja a correr algum risco, não necessariamente de
soçobrar, mas, por exemplo, de não estar sendo adequadamente
IV. Crise e reforma política
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