As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 170
país. Ainda que de modo meio torto, o PT que se subsumiu a
Lula passou a mostrar maturidade, arquivou seus arroubos ideológicos, trocou a pureza pela “responsabilidade”. Converteu-se
em ator principal e fez com que todos passassem a considerá-lo
com seriedade.
O problema é que o ingresso do PT na arena da grande política está se fazendo pela porta da pequena política, onde são feitos
pactos com o diabo, ou com jurados inimigos de ontem, pragmaticamente. Política sem acordos e coligações, sem barganhas e
concessões, é como noite sem lua. Não avança, nem produz resultados positivos. Mas há modos e modos de se fazer isso.
Na eleição paulistana de 2012, o PT aceitou a companhia e
os afagos de Paulo Maluf. Na cerimônia em que o deputado
aderiu à campanha de Fernando Haddad, o PT de Lula reiterou
sua conversão ao jogo frio da política. Trocou a paixão pelo cálculo, pela contagem de minutos de propaganda e votos potenciais. Foi, porém, com sede total ao pote. Permitiu que o líder do
PP explorasse ao máximo a aproximação.
Houve pequenos ganhos para ambos os lados. O PT incorporou 1:30 minuto à sua propaganda e passou a dispor, em tese,
de acesso mais privilegiado aos redutos eleitorais malufistas,
ainda que sem garantias. De quebra, desafinou o coro dos contentes, mostrando que agora são outros tempos, outras amizades, que não somente os tucanos podem comer na seara do centro e da direita. Maluf, por sua vez, recebeu oxigênio adicional
para seguir fazendo política, quem sabe com o benefício de não
ser mais visto como o bicho-papão do autoritarismo e da corrupção. Também não teve garantia de nada, mas soube como
extrair dividendos evidentes da operação. Ganhou uma exposição que em outros tempos seria inimaginável.
As perdas e os danos do acordo, porém, foram maiores do
que os ganhos. O PT perdeu excelente oportunidade para traduzir em fatos o proclamado desejo de fazer política com o selo
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