Saindo da escala maior para um território menor, a residência unifamiliar pode ser caracterizada como o invólucro delimitador do espaço público e do espaço privado. Dentre todas as possibilidades do projetar, o projeto arquitetônico residencial é aquele que abrange inúmeras necessidades e, ao mesmo tempo, de mais simples tecnicidade. Parafraseando Rino Levi, o homem tem a necessidade de ser compreendido como indivíduo, e não como parte do pluralismo social. Desse jeito, todas as particularidades do habitar humano devem estar contidas na propriedade privada. Com esse elemento, a vida doméstica dissocia-se do meio urbano. À nível social, a insegurança está no seio do espaço público e, portanto, a casa significa recuperar valores desencontrados no espaço social da cidade, criando o verdadeiro abandono da grande sociedade, como cita Helena Béjar( 1988). Desse cenário, parte-se para o entendimento de como o habitar transferiu-se de uma escala à outra. O sentir-se individual do cidadão causa, assim, um antagonismo na confiança pré-existente entre seres da mesma sociedade e da solidariedade humana ³. Já em Jane Jacobs, a abordagem atinge o objetivo de sustentar a visão da sociedade aberta. Com as expressões“ vigias da rua” e“ olhos da rua”, a jornalista descreve o processo pelo qual o espaço urbano pode ser um ambiente saudável, apto para a convivência entre os diversos grupos socioeconômicos.
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A desigualdade social e econômica é o plano de fundo para os altos índices de criminalidade e as tentativas( total ou parcialmente) privadas de proteger a vida e a propriedade. Há uma abundância de recursos: arame farpado e grades que transformam casas em fortalezas, [...] todos são exemplos de tentativas de proteção contra a invasão da propriedade privada. Os exemplos também ilustram o recolhimento generalizado de alguns grupos populacionais à esfera privada.( GEHL, 2015, p. 97)