ANTONIO - A SUA MAIS NOVA REVISTA - SAÚDE - Primeira Edição ANTONIO - A SUA MAIS NOVA REVISTA - Primeira Ediç | Page 45
A resposta depende
do que você
chama de ficar
sozinho. Estar no
seu canto, por
livre e espontânea
vontade, pode
ser prazeroso e
necessário. Já não
ter com quem
contar na vida
costuma abalar
mesmo o bem-estar
por ANDRÉ BERNARDO
design ANA PAULA MEGDA
ilustrações ANA MATSUSAKI
O
que é, o que é? Tem sintoma, mas
não é doença. Faz mal à saúde, mas
não é excesso de peso. Pode até ma-
tar, mas não é tabagismo. Acertou
quem disse: solidão. Parece brincadeira, mas
o assunto foi alçado a problema de saúde pú-
blica. A primeira-ministra britânica, Theresa
May, criou um ministério só para cuidar do
mal que ela define como “a triste realidade
da vida moderna”. Na terra da rainha, o iso-
lamento social involuntário atinge 9 milhões
de cidadãos, algo em torno de 15% da popu-
lação. Desses, um em cada três, na casa dos
75 anos, afirma que o sentimento de não ter
com quem contar está fora de controle.
Nesse contexto, a ONG inglesa Campa-
nha para Acabar com a Solidão, fundada em
2011, lançou um vídeo com a seguinte per-
gunta: “Você conseguiria passar uma semana
sem falar com ninguém?” Em uma de suas
enquetes, apurou que 52% dos entrevistados
gostariam de ter com quem conversar, 51%
sentiam falta de ouvir risadas de alguém e
46% se queixavam de não receber um abraço.
“Todos nós, governo e sociedade, temos uma
missão a cumprir. De nossa parte, criamos o
movimento “Seja Mais Nós”, que encoraja
pequenas conexões diárias, como cumpri-
mentar desconhecidos na rua, convidar os
vizinhos para um chá ou telefonar para al-
gum solitário em potencial. Dez minutos de
bate-papo fazem a diferença”, conta Laura
Alcock-Ferguson, diretora da entidade.
O fantasma da solidão não tira o sono
apenas dos britânicos. Estimativas apontam
que uma em cada quatro pessoas no mundo
não tem amigos pra valer, vive longe da famí-
lia ou se sente desconectada socialmente. A
psicóloga Julianne Holt-Lunstad, da Univer-
sidade Brigham Young, nos Estados Unidos,
revisou estudos englobando, ao todo, 3,7 mi-
lhões de voluntários, e chegou a uma conclu-
são alarmante: sentir-se sozinho faz tão mal à
saúde como estar acima do peso, ser sedentá-
rio ou fumar 15 cigarros por dia! “Se medidas
não forem tomadas, a solidão poderá atingir
proporções epidêmicas até 2030”, prevê.
DESGRAÇA
NÃO VEM SÓ
Além da conta,
a solidão tem
repercussões físicas
pelo corpo
NO CÉREBRO
A tensão e a
tristeza aumentam
os episódios de
ansiedade e colocam
o indivíduo mais
próximo da depressão.
NO CORAÇÃO
A solidão profunda
lembra um estresse
crônico. A liberação
de alguns hormônios
mexe com a pressão
e os batimentos.
NA IMUNIDADE
Existem indícios de
que o estado criado
pela solidão diminui
a atuação do sistema
imune, aumentando
o risco de infecções.
SAÚDE É VITAL • JANEIRO 2019 • 49