ANTONIO - A SUA MAIS NOVA REVISTA - SAÚDE - Primeira Edição ANTONIO - A SUA MAIS NOVA REVISTA - Primeira Ediç | Page 27
Julia reconhece que mais investigações são
necessárias para entender e comprovar o
vínculo identificado em sua pesquisa. Mas
já há diversas hipóteses sendo ventiladas.
Uma delas diz que os alimentos orgânicos
esbanjariam mais nutrientes do que os con-
vencionais, produzidos com agrotóxicos —
isto é, produtos químicos usados no campo
como fertilizantes ou para afastar pragas e
outras plantas que não as cultivadas. “Mas
os estudos sobre isso são controversos. Por
isso, ainda não existe consenso sobre o
tema”, analisa a nutricionista Juliana Ge-
raix, doutora pela Faculdade de Medicina
de Botucatu, no interior paulista, e especia-
lista na relação entre alimentação e câncer.
“Fatores como o solo onde o produto cresce,
quais pesticidas são usados e como os pro-
dutos são aplicados influenciam nesse as-
pecto. Então é simplório demais eleger uma
categoria como mais nutritiva”, raciocina.
Mas há uma teoria favorável aos orgâ-
nicos que goza de mais respaldo entre os
experts. Ela defende que, ao privilegiar essa
versão do alimento — que também respeita
princípios de sustentabilidade —, o indiví-
duo diminui sua exposição aos tais agrotó-
xicos. “E alguns desses compostos já foram
relacionados com o câncer, porque levam a
alterações no DNA e no funcionamento das
células capazes de propiciar o aparecimento
de tumores”, explica Thaís.
No último ranking
da Anvisa sobre o
teor de resíduos
de agrotóxicos nos
vegetais, os campeões
são frutas que não
comemos com casca
— o que teoricamente
reduz a exposição
aos pesticidas. Mas,
como eles não são
eliminados 100%,
vale ficar de olho na
lista abaixo. Outra
dica: alimentos
da época e de
preferência regionais
precisam de menos
defensivos para
prosperar.
Mais limpos ou nutritivos?
Se não der para
comprar todos os
vegetais em versão
orgânica logo de cara,
vale começar por
algumas variedades
N
o fim de 2018, uma pesquisa feita
com mais de 68 mil pessoas causou
um verdadeiro rebuliço ao associar
a preferência por alimentos orgâni-
cos a uma menor probabilidade de encarar
alguns tipos de câncer. Para a investigação
desse elo, os voluntários responderam pe-
riodicamente a um questionário, no qual
forneceram informações sobre o consumo
de 16 itens. Após sete anos, contabilizou-
-se a incidência da doença na turma. Foi
daí que saiu o dado que chacoalhou a co-
munidade científica: quem priorizava os
orgânicos estava mais protegido contra os
tumores — o risco de enfrentá-los era 25%
menor, segundo cálculo dos autores. Para
os linfomas, o número impressionou mais,
já que o perigo despencou 73%.
Publicado no periódico Jama Internal Me-
dicine, o resultado merece algumas ponde-
rações. Primeiro, trata-se de um estudo de
associação, ou seja, apenas compara dois
dados em vez de mostrar uma relação clara
de causa e efeito. Outra crítica vem do fato
de o levantamento não ter dosado os resídu-
os dos agrotóxicos presentes no organismo
dos participantes — o que poderia trazer à
tona uma ligação mais direta ou não. Ape-
sar de justos, esses argumentos não tiram
o mérito do trabalho. Para focar exclusiva-
mente nos orgânicos e evitar confusões, os
cientistas excluíram outros fatores classica-
mente ligados à doença. “E, mesmo quando
controlamos histórico familiar, tabagismo,
O QUE
PRIORIZAR
por CHLOÉ PINHEIRO | design EDUARDO PIGNATA
fotos DULLA | produção INA RAMOS
qualidade da dieta como um todo e nível
socioeconômico, não houve alteração signi-
ficativa nos desfechos”, relata a nutricionis-
ta e coordenadora do estudo Julia Baudry,
da Universidade de Paris, na França.
Mas também não vá esperando milagres.
“O câncer é uma doença multifatorial. Por-
tanto, não adianta optar pelo orgânico e
tomar refrigerante todos os dias, ser seden-
tário, fumar, e por aí vai”, faz questão de
ressaltar Thaís Manfrinato Miola, coordena-
dora de Nutrição Clínica do A.C.Camargo
Cancer Center, em São Paulo.
Novo estudo sugere que
alimentos sem resíduos de
agrotóxicos reduzem o risco
de tumores. Saiba o que dizem
os especialistas e como esse
achado reflete na sua mesa
SAÚDE É VITAL • JANEIRO 2019 • 31