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4 A Voz dos Reformados | Julho/Agosto 2020 Entrevista Este estigma que está a ser criado é p Reformados, pensionistas e idosos recusam «pandemia do medo» Entrevista do jornal “A Voz dos Reformados” «Não nos podemos intimidar pela “pandemia do medo” e continuar a lutar por melhores reformas, melhores cuidados de saúde, mais equipamentos sociais, mais acesso à cultura e lazer», afirmou José Núncio, presidente da Comissão Unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos (CURPI) de São João da Talha. Em Março, os centros de dia encerraram como medida preventiva de combate à COVID-19, uma situação também vivida pela CURPI. O que significou esta situação para os utentes, mas também para os seus profissionais e dirigentes? A CURPI desenvolve actualmente duas valências protocoladas com o Instituto da Segurança Social (ISS): centro de dia e Serviço de Apoio Domiciliário, com, respectivamente, 50 e 30 utentes. Temos cerca de 1300 associados, a quem proporcionamos atividade diária no centro de convívio, como ginástica e hidroginástica, e um grupo coral. Simultaneamente, desenvolvemos outras iniciativas, como o «Parabéns a Você», uma vez por mês, a semana de férias, que este ano está reprogramada para finais de Setembro, excursões, teatro, exposições, debates e palestras. Termos cancelado de forma abrupta toda esta atividade, por via do encerramento das instalações, e dirigido as nossas funções de Centro de Dia (CD) em Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), não foi fácil. De que forma se concretizou? Na fase inicial foi encarado por todos com preocupação mas, simultaneamente, com a esperança de que em breve retomaríamos a atividade. Não optamos pelo lay-off, organizamos o trabalho em espelho, criamos condições para que as trabalhadoras fizessem o menor número possível de deslocações, fizemos refletir nos salários a última actualização do valor que recebemos do ISS e reforçamos as medidas de higiene e aquisição de equipamento de proteção individual. Que «soluções» foram encontrada pelos familiares dos utentes, relativamente ao acompanhamento diferenciado e qualificado na área da saúde? E nos casos de idosos que se encontram sozinhos? Na fase inicial de confinamento em que estávamos «todos» em casa, com as nossa visitas, o acompanhamento aos idosos, na toma da medicação e alimentação, foi relativamente fácil. Hoje a situação agravou-se. Com a necessidade dos familiares voltarem ao trabalho, muitos idosos ficam sozinhos. Só a nossa visita não chega para, nomeadamente, ajudar na medicação. Por exemplo, na Unidade de Saúde Familiar (USF) da freguesia não há consultas presenciais. Em grande parte dos casos, procuramos ser um elo facilitador na ligação utente-USF, com a entrega de medicamentos. Que obstáculos foram encontrados? No início desta pandemia, em que muitos ficaram sem salário, apesar não estarmos vocacionados para isso, demos apoio alimentar a algumas famílias. As respostas sociais disponíveis foram suficientes para um número tão elevado de situações? Numa das mais envelhecidas freguesias do concelho de Loures, a falta de equipamentos, nomeadamente estruturas residenciais para idosos (ERPI), obriga a alguns idosos a deslocarem-se para longe do seu local de residência, alguns para sítios onde não têm qualquer referência, o que torna difícil a visita dos seus familiares. De que forma a suspensão de atividades colidiu com as despesas fixas de funcionamento? Houve algum apoio do Poder Local? Do ponto de vista financeiro a situação tem que ser vista de duas formas, primeiro pelo aumento da despesa gerada pela transformação do CD em SAD e pela perca de receita gerada, na cafetaria, dificuldade no recebimento de quotas, redução da mensalidade em 50 por cento (a legislação obriga a 10 por cento) aos utentes que estão ausentes e aquisição de equipamento de proteção individual (EPI), que, em alguns casos, pela especulação e ganancia do mercado, atingiu preços proibitivos.