A democracia e seus desafios em tempos de crise 1ª Edição - Outubro 2017 | Page 11

Prefácio Como, então, ser sujeito ético a partir da condição de vítima? Um tal processo passa pela afirmação por parte da vítima de seu poder de viver e viver bem, por sua participação ativa no diálogo em que ela afirma seu poder de falar e de comunicar sua visão de mundo e, enfim, por seu poder de organização e de luta a partir dos quais ela cria uma nova realidade não vitimária. O processo de construção da libertação é, no entanto, permanente, não po- dendo nunca um estágio transitório se afirmar como realidade total e acabada, sob o risco de dar vazão a um novo regime to- talitário. De sua parte, Ozanan Carrara procura usar as reflexões de Jonas e Levinas para pensar a democracia a partir das exigências trazidas pela crise ambiental e pela negação das alteridades que o filósofo franco-lituano denuncia no que ele denomina “totali- tarismo ontológico”. Aborda as críticas de tendências ao totalita- rismo político que alguns veem em Jonas em nome da salvação da natureza e reúne elementos fundamentais que apontam para um pensamento da democracia respeitadora das alteridades a partir de um modo inusitado de pensar a relação entre ética e política que se encontra na filosofia da alteridade. Luciano Donizetti da Silva usa sua experiência e conheci- mento da filosofia sartreana para reunir os elementos que, a seu ver, seriam um pensamento sartreano em torno da questão da democracia, trazendo o filósofo ao debate contemporâneo, em- bora J.P. Sartre jamais tenha se identificado com qualquer mode- lo político. O fio que o conduz é que “ser homem é ser liberdade situada” e daí se pode pensar tanto os limites quanto as supostas benesses da democracia. No entanto, o filósofo tece críticas per- tinentes à democracia representativa hoje tão criticada por toda parte como insuficiente e incapaz de representar a vontade e os interesses dos cidadãos – quando não se volta contra eles – e su- gere que a melhor forma de democracia é a direta que melhor representa a liberdade. José André da Costa, por sua vez, traz a reflexão sobre de- mocracia, literatura e direitos humanos para o espaço prisional, mostrando como a literatura, a religião e a própria democracia 10 de 244