A democracia e seus desafios em tempos de crise 1ª Edição - Outubro 2017 | Page 10

Prefácio deem as mãos a fim de reverter a destruição em preservação de si e do outro. Pablo Salvat chama a atenção, em sua reflexão, para os de- safios éticos que se colocam às democracias contemporâneas. A ausência de uma dimensão moral compromete-lhes a credibi- lidade, a aceitação, a legitimidade e sua capacidade de resolver conflitos. Sugere que um eixo normativo se imponha a partir de três eixos, quais sejam: o princípio do reconhecimento que admi- ta cada cidadão indistintamente como sujeito de direitos e de de- veres, o reconhecimento de todo outro como interlocutor válido na tomada de decisões, dentro de um contexto participativo, e a Justiça que supõe o reconhecimento de todo outro como sujeito de direitos além da responsabilidade comum que exige a tomada em consideração das consequências das decisões presentes a mé- dio e longo prazo. Não seriam justamente esses elementos de que carecem as democracias atuais? Magali Mendes de Menezes e Pedro de Almeida Costa to- mam o reconhecimento do outro como fio de sua reflexão, mos- trando a estreiteza e a incapacidade de compreender o outro não- -europeu por parte da dialética do reconhecimento de Hegel. Assim, recorrem às contribuições da filósofa Judith Butler para pensar a problemática do reconhecimento que, a partir de Ador- no, acusa o ethos universalizante de violentar as particularida- des. Como, então, pensar o reconhecimento dentro do contexto histórico de colonização de nossa América que violentou o outro no indígena e no negro? Por fim, recorrem a Raul Fornet-Betan- court que propõe caminhos para pensar a descolonização do próprio pensamento de raiz europeia, procurando reconstruir uma racionalidade que perdeu a relação com a natureza, com o místico e com o simbólico, a partir das culturas ameríndias. Provocam-nos a buscar um modelo latino-americano de demo- cracia inclusiva e reconhecedora do outro. Paulo César Carbonari, por sua vez, quer pensar a condi- ção da vítima, buscando caminhos de superação dessa condição a partir de Paulo Freire, Walter Benjamim e Enrique Dussel, vi- sando afirmar o sujeito que emerge desde a condição de vítima. 9 de 244