A população beneficiada pelos procedimentos mais complexos é
inversamente proporcional ao seu custo.
Se o moderno arsenal diagnóstico e terapêutico fosse consu-
mido de forma racional e cientificamente justificado estaria tudo
bem, mas o que ocorre é com frequência uma prescrição emocio-
nal e desnecessária, daí a razão de se introduzir mecanismos de
controle que restrinjam o uso indiscriminado dos procedimentos
de alta complexidade. Sinteticamente, nos traumas de alta
complexidade, 20% dos pacientes consomem 80% dos recursos de
atendimento hospitalar. Isto quer dizer que de 100 pacientes do
sistema de saúde, 80 não terão assistência porque os recursos
foram consumidos integralmente pelas 20 pacientes vítimas de
trauma de alta complexidade e violência. (Trânsito, homicídios,
violência interpessoal etc.).
No que diz respeito aos modernos medicamentos, o inegável
avanço tecnológico tem um preço muito alto. É cada vez mais
difícil separar um componente com efeitos terapêuticos da
enorme gama de componentes químicos que a natureza estoca.
De 1.000 substâncias descobertas 12 são escolhidas para estu-
dos, dos quais apenas 6 são candidatas a testes, sendo que
destes apenas um se transforma em produto comercial. Este
processo leva de 12 a 24 anos.
Em 1976, o desenvolvimento de uma nova droga custava cerca
de 54 milhões de dólares; em 1986, cerca de 125 milhões de dóla-
res; em 1997, estimou-se este custo em 400 milhões de dólares.
Uma vez lançado um produto novo, a indústria tinha em 1966 algo
em torno de 10 anos de exclusividade, isto é, este era o tempo que
um concorrente demorava para desenvolver uma outra droga com
efeito terapêutico semelhante. Em 1977, este tempo caiu para 6
anos. Em 1987, passou a 4 anos e, em 1992, passou a 1 ano. Esta-
mos falando de drogas de efeito semelhante e não de cópia. Na área
da oncologia, ser medicado adequada e continuamente representa
controlar o surto da doença, ou morrer. Não há meio termo.
Esta é a Escolha de Sofia: quanto mais tecnologia, mais recur-
sos diagnósticos, mais recursos terapêuticos, mais resolutivi-
dade, de última geração, de excelência, mais vamos eliminando a
base da pirâmide, mais excluímos, mais decidimos quem conti-
nuará e quem ficará no meio do caminho, quem vai viver e quem
vai morrer, dependendo dos recursos disponíveis. Na situação
atual do SUS, os crimes contra a humanidade brasileira, pelos
responsáveis pelo gerenciamento e financiamento do sistema
A escolha de Sofia
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