A crise não parece ter fim PD48 | Page 31

Nos dias de hoje , devemos destacar o que de mais significativo vem ocorrendo em algumas das democracias mais avançadas da Europa Ocidental . Em nações nas quais há maior possibilidade de se organizar livremente para as eleições , temos acompanhado nos últimos anos alguns fenômenos importantes . Na Itália , o comediante Beppe Grillo fundou um movimento que logo se transformou em uma das principais forças políticas do país . Na Espanha , os grupos Podemos e Ciudadanos quase desbancaram os partidos mais tradicionais ( como o Partido Socialista Obrero Español , o PSOE , com mais de 120 anos de história ). Por fim , mais recentemente , na França tivemos a consagradora vitória de Emmanuel Macron com o seu movimento “ Em Marcha ” – que praticamente fez desaparecer do mapa político francês os gaullistas republicanos , os socialistas e os comunistas , fragorosamente derrotados no último pleito . Estes são alguns exemplos emblemáticos , ao redor do mundo , que apontam para o surgimento de um novo cenário político .
Por outro lado , é evidente que as graves falhas do modelo brasileiro precisam ser corrigidas o mais rápido possível . A maior de todas as distorções talvez seja o acesso indiscriminado e irrestrito dos partidos políticos aos recursos do Fundo Partidário e ao tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão . Com as facilidades para que todas as legendas tenham acesso ao Fundo , criou-se no Brasil um amplo mercado de negociações espúrias e tentativas de enriquecimento fácil à custa do dinheiro público , com uma profusão de pedidos de registro de novos partidos interessados exclusivamente em receber tal financiamento .
Lamentavelmente , a criação de novos partidos tornou-se um grande negócio . Guardadas as devidas proporções , é algo semelhante ao que ocorre com o sindicalismo , cada vez mais dependente dos valores provenientes do chamado imposto sindical – extinto em boa hora com a recente aprovação da reforma trabalhista . O que se vê é uma proliferação de sindicatos e o esfacelamento do movimento sindical brasileiro , já tão cooptado , o que fez com que algumas centrais passassem a existir quase unicamente em função do dinheiro que recebiam por meio das contribuições sindicais compulsórias . Há , ainda , uma terceira vertente dessa grave distorção : igrejas e templos religiosos , por força de uma imunidade tributária assegurada por lei , muitas vezes proliferam como mero negócio . Isto também tem de acabar .
O debate que deve ser levado adiante para racionalizar o sistema eleitoral brasileiro não envolve nenhuma restrição à
Uma reflexão sobre o Brasil atual
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